sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A serpente de bronze

Suscitado por Deus para libertar o Povo Eleito da escravidão no Egito, Moisés foi sem dúvida dos maiores homens que a História conheceu.
Para realizar essa missão humanamente impossível, realizou prodígios como ninguém. Para vergar o Faraó, desencadeou as dez pragas. Na condução do povo à terra prometida, abriu as águas do Mar Vermelho, fazendo os hebreus atravessarem a pé enxuto; fez brotar água de rochedos; cair maná do céu, culminando tudo com as Tábuas da Lei, em que o próprio Deus lhe transmitiu os Dez Mandamentos.
Entretanto, o povo israelita — testemunha e beneficiário de todos esses prodígios — não correspondia com gratidão à bondade divina. Na peregrinação de quarenta anos pelo deserto, com muita frequência duvidava de sua infinita bondade ou de sua onipotência, e punha-se a murmurar e reclamar contra os céus e Moisés.
Dúvidas, desconfianças e murmurações
Assim, apenas três dias após a milagrosa passagem do Mar Vermelho, começaram as murmurações — “Que havemos de beber?” (Ex 15, 24) — pois eram amargas as águas de Mara, onde chegaram. Moisés, então, por indicação do Senhor, jogou na água um madeiro que a transformou em água doce.
Decorridos menos de dois meses, reiniciaram as dúvidas e reclamações: “Oxalá tivéssemos sido mortos pela mão do Senhor no Egito, quando nos assentávamos diante das panelas de carne e tínhamos pão em abundância! Vós nos conduzistes a este deserto, para matardes de fome toda esta multidão” (Ex 16, 3). Em resposta, Deus enviou-lhes uma nuvem de codornizes e, a partir desse dia, fez cair do céu todas as manhãs o maná, saboroso e nutritivo, do qual, durante 40 anos, se alimentaram 600 mil homens aptos para a guerra, além das mulheres e crianças.
Na etapa seguinte da caminhada, nova recaída: “Por que nos fizeste sair do Egito? Para nos fazer morrer de sede com nossos filhinhos e nossos rebanhos?” Então dirigiu Moisés esta prece ao Senhor: “Que farei a este povo? Mais um pouco e irão apedrejar-me” (Ex 17, 3-4).
Manifestações de desconfiança, de murmuração e de espírito de revolta eclodiam, por assim dizer, em cada etapa do percurso. Somente contra Moisés? Não, contra o próprio Deus: “Ele ouviu as murmurações que proferistes contra Ele. Nós, porém, quem somos? Não é contra nós que murmurastes, mas contra o Senhor” (Ex 16, 8).
Deus, paciente e misericordioso, atendia sempre às súplicas de seu Profeta e perdoava o povo “de dura cerviz”. Às vezes, para bem desse mesmo povo, mandava-lhe uma salutar punição.
“Enviou serpentes ardentes que picaram e mataram muitos”
Um desses castigos foi o das mortíferas serpentes.
Logo após ser favorecido pelo Senhor dos Exércitos com uma vitória contra os cananeus, o povo hebreu partiu em direção ao Mar Vermelho. No caminho, perdeu a coragem e recomeçou a murmurar mais uma vez contra Deus e Moisés: “Por que nos tirastes do Egito, para morrermos no deserto onde não há pão nem água? Estamos enfastiados deste miserável alimento” (Nm 21, 5).
O Senhor, então, enviou contra eles serpentes ardentes que picaram e mataram muitos. Ante a evidência do desagrado divino, reconheceram seu pecado e recorreram à intercessão de Moisés: “Pecamos, murmurando contra o Senhor e contra ti. Roga ao Senhor que afaste de nós essas serpentes” (Nm 21, 7).
O Profeta intercedeu por eles e foi prontamente atendido, como sempre. Deus, porém, em vez de eliminar as serpentes, querendo dar uma grande lição moral ao povo, disse a Moisés: “Faze para ti uma serpente ardente e mete-a sobre um poste. Todo aquele que for mordido, olhando para ela, será salvo” (Nm 21, 8). Moisés mandou, pois, fundir uma serpente de bronze e fixá-la num poste. E, diz o Livro dos Números, “se alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, conservava a vida” (21, 9).
Prefigura de Jesus e de Maria
Portanto, para quem recebia a picadura mortal da cobra, não adiantava recorrer diretamente a Deus: “Senhor, salva-me!” Também não resolvia seu caso pedindo ajuda a Moisés. Não... Se não queria morrer, era indispensável olhar para a serpente de bronze erguida no poste.
Por quê? Deus poderia tudo fazer diretamente, sem intermediário algum. Mas, em sua infinita Sabedoria, quer Ele servir-se de intercessores e de símbolos, como Moisés e a serpente de bronze. Esta simboliza o Divino Redentor, conforme afirma o Evangelho de São João: “Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim deve ser levantado o Filho do Homem, para que todo homem que n’Ele crer tenha a vida eterna” (Jo 3, 14).
E é um formoso símbolo também da Virgem Maria, Co-redentora do gênero humano e Medianeira de todas as graças, para quem devemos olhar em todos os momentos da vida. Isto nos ensina, com palavras de fogo, o grande São Bernardo, exortando-nos a invocar Maria, a Estrela do Mar:
“Se o vento das tentações se levanta, se o escolho das tribulações se interpõe em teu caminho, olha a estrela, invoca Maria.
“Se és balouçado pelas vagas do orgulho, da ambição, da maledicência, da inveja, olha a estrela, invoca Maria.
“Se a cólera, a avareza, os desejos impuros sacodem a frágil embarcação de tua alma, levanta os olhos para Maria.
“Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria.
“Seguindo-A, não te transviarás; rezando a Ela, não desesperarás; pensando n’Ela, evitarás todo erro.”


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