terça-feira, 25 de setembro de 2012

Oração a Jesus Sacramentado

Senhor meu Jesus Cristo, que, por amor aos homens, ficais dia e noite neste Sacramento, todo cheio de misericórdia e amor, esperando, chamando e acolhendo todos os que vêm visitar-Vos, eu creio que estais presente no Sacramento do altar. Adoro-Vos do abismo do meu nada e agradeço-Vos todas as graças que me tendes feito, especialmente a de Vos terdes dado a mim neste Sacramento, a de me haverdes concedido por advogada Maria, vossa Mãe Santíssima, e finalmente, a de me haverdes chamado a visitar-Vos nesta igreja.
Saúdo hoje o vosso Coração amantíssimo e quero saudá-lo por três fins: primeiro, em agradecimento pelo grande dom de Vós mesmo; segundo, em reparação das injúrias que tendes recebido, neste Sacramento, de todos os vossos inimigos; terceiro, com a intenção de Vos adorar, por esta visita, em todos os lugares da Terra onde Vós, neste divino Sacramento, estais menos reverenciado e mais abandonado.
Meu Jesus, amo-Vos de todo o meu coração. Arrependendo-me de, no passado, ter ofendido tantas vezes a vossa bondade infinita. Proponho, com a vossa graça, não mais Vos ofender no futuro. E nesta hora, embora miserável como sou, eu me consagro todo a Vós e Vos dou e entrego a minha vontade, os meus afetos, os meus desejos e tudo o que me pertence. Daqui em diante fazei de mim, e de tudo o que é meu, o que Vos aprouver. Somente Vos peço e quero o vosso santo amor, a perseverança final e o perfeito cumprimento da vossa vontade.
Recomendo-Vos as almas do Purgatório, especialmente as mais devotas do Santíssimo Sacramento e da Santíssima Virgem Maria. Recomendo-Vos também todos os pobres pecadores. Enfim, meu amado Salvador, uno todos os meus afetos aos afetos do vosso Coração amantíssimo e, assim unidos, eu os ofereço a vosso Eterno Pai, pedindo-Lhe, em Vosso nome e por vosso amor, que Se digne de os aceitar e atender. Assim seja.
Santo Afonso Maria de Ligório – Oração para antes da Visita ao Santíssimo Sacramento

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Um prodigioso esquecimento

Eram duros os tempos das primeiras missões evangelizadoras da América do Norte. Muitos habitantes daquelas terras não conheciam a Religião de Cristo e os apóstolos eram em número insuficiente para levar a todas as almas a verdadeira Fé. “ A messe é grande, mas os A operários são poucos” (Mt 9, 37), diz a Escritura. Mas, gradualmente, com o auxílio da graça, a Santa Igreja ia-se estabelecendo naquelas vastidões territoriais, como a gota de azeite se espalha silenciosamente pela folha de papel.
No povoado de Santa Maria dos Anjos, onde já todos eram católicos fervorosos, exercia seu fecundo apostolado o padre Jorge. Levantava-se de madrugada, passava uma hora de adoração a Jesus Hóstia e em seguida celebrava a Santa Missa. Hauria, assim, as forças para a labuta de cada dia. Cuidava da catequese das crianças e dos adultos, dirigia a escola e o hospital local, administrava os sacramentos, visitava os enfermos de toda a região.
Certo dia, chamaram-no para atender um doente em estado grave, que morava bem longe do povoado. O Sol já estava baixando, não tardaria a anoitecer. O pároco aprontou-se rapidamente, pegou os Santos Óleos para a Unção dos Enfermos e preparou tudo para levar o Santo Viático.
Valério, o sacristão, ofereceu-se para acompanhá-lo, pois a viagem era longa e não isenta de perigos, mas o sacerdote achou melhor que ele ficasse, para cuidar da igreja. Ele então selou o cavalo e ajudou o padre Jorge a montar, já com o Santíssimo Sacramento numa pequena teca, que levava dependurada ao pescoço, dentro de uma delicada bolsa.
Fustigando a montaria para acelerar a marcha, o pároco percorreu em pouco tempo vários quilômetros. Mas... aconteceu o inesperado: desabou um forte temporal, as escuras nuvens e o aguaceiro toldavam as últimas réstias de luz do Sol que ainda iluminavam aquela estrada cheia de acidentes e obstáculos. E o padre viu-se obrigado a parar numa pequena hospedaria, muito simples, mas limpa e ordenada.
Curiosamente, ali se abrigara, forçado também pela tempestade, um mensageiro do enfermo, enviado para comunicar-lhe que este dava sinais de recuperação e, portanto, já não era tão urgente a ida do sacerdote.
Tranquilizado por essa notícia, o padre Jorge tomou essa coincidência como um sinal da Providência e decidiu pernoitar ali, para não expor o Santíssimo Sacramento aos numerosos riscos de uma viagem sob a borrasca.
Ocupou um quarto no segundo andar, onde preparou da melhor forma possível um pequeno armário para servir de tabernáculo. Nele depositou a Sagrada Hóstia, pôs-se de joelhos e rezou durante algum tempo, depois trancou a porta e desceu para o refeitório, onde já estava servido o jantar.
Ali foi informado, em conversa com outros hóspedes, que o dono do hotel e sua família eram pagãos. Por prudência, evitou tudo quanto pudesse revelar que ele levava consigo Nosso Senhor Sacramentado e, terminada a refeição, recolheu-se sem demora ao seu quarto-capela, preparando-se para partir cedinho no dia seguinte.
Quando raiou o Sol, estava já ele a cavalo, para reiniciar sua viagem.
No meio do caminho, levou instintivamente a mão ao peito para sentir a presença do Santíssimo Sacramento e percebeu que a preciosa teca não estava aí! Encomendando-se à Santíssima Virgem, fez meia-volta, esporeou o animal e partiu de volta a todo galope.
Cruzando o portal da hospedaria, o padre Jorge saltou da cavalgadura e correu à procura do hoteleiro:
— Senhor, desculpe, mas alguém mais ocupou o quarto em que pernoitei?
Surpreso, ele lhe respondeu:
— Não, senhor padre. E que bom o senhor ter voltado, porque, desde a sua partida, fizemos de tudo para abrir a porta daquele quarto e não conseguimos. O que fez o senhor para deixar a chave emperrada na fechadura de maneira que ninguém consegue girá-la?
Impressionado, o sacerdote disse:
— Nada. Apenas deixei lá a chave...
— É, mas além de não conseguirmos abrir a porta, vê-se pelas frestas que o quarto está iluminado por uma luz desconhecida. O senhor deixou alguma vela acesa ali?
O piedoso sacerdote, que já tinha passado da terrível apreensão para a tranquilidade, foi invadido por uma grande alegria: essa luz só podia ser fruto de um milagre. Teriam os Anjos do Céu vindo fazer companhia a Jesus Sacramentando, protegendo-O de qualquer sacrilégio ou mesmo de simples irreverências?
— Vamos lá. Vou tentar abrir a porta.
E subiu rapidamente as escadas. O hoteleiro seguiu atrás, acompanhado da esposa, dos filhos, dos criados e até de vários hóspedes, todos desejosos de desvendar aquele mistério.
Lá chegando, padre Jorge girou a chave e abriu a porta com toda facilidade. Imaginem sua emoção ao ver que daquele armário — o tabernáculo por ele improvisado — saía uma luz celestial, enquanto músicas angelicais se faziam ouvir dentro do quarto.
Pondo-se de joelhos, adorou, comovido ao extremo, o Rei dos reis que quis manifestar-Se daquela maneira para atrair mais almas a Seu Sacratíssimo Coração Eucarístico.
Em seguida, explicou a todos o que se passara. Entre atônitos e maravilhados, foram-se ajoelhando um a um... Agora nenhum deles duvidava da Presença Real de Jesus na Eucaristia! O hoteleiro pediu para receber o Batismo, junto com toda a sua família.
O padre Jorge não podia abandonar essas almas que o próprio Senhor conquistara por meio de tão prodigioso fato! Passou, pois, alguns dias no hotel, ensinando-lhes as belezas e as verdades da Fé Católica. Durante esse tempo, a Sagrada Eucaristia permaneceu no seu precário tabernáculo, recebendo a adoração do hoteleiro, de sua família e de vários habitantes da região. Muitos destes também se converteram, de modo que o padre Jorge teve a alegria de ministrar o Batismo a uma pequena multidão de novos filhos da Santa Igreja.
Por fim, foi à casa do enfermo que, uma semana antes, havia solicitado sua assistência, e o encontrou já curado. O Senhor quis, Ele mesmo, operar prodígios em favor de sua messe!

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Um incêndio providencial

Edgard levantou-se muito contente naquela manhã. Seu novo barco de pesca, recém-saído do estaleiro, prometia-lhe um proveitoso dia de trabalho. E o tempo estava perfeito para essa estreia. O céu amanhecera azul, com algumas nuvens, é verdade, mas estas acabariam por dar-lhe um pouco de proteção contra o Sol. As redes estavam limpas e bem dobradas. O delicioso aroma do café da manhã, cuidadosamente preparado por Adelaide, sua esposa, convidava-o a se apressar.
Saiu de casa logo depois da refeição matinal. Enquanto se afastava rumo à praia, via Luísa e Marcelo, que davam adeus ao pai, ufano de seu barco novo. Esperava regressar com muitos peixes e fazer bom negócio na feira semanal do dia seguinte, à qual afluía gente de toda a vizinhança.
Fazendo o sinal-da-cruz e beijando sua medalha da Virgem do Carmo, da qual nunca se separava, Edgard levantou âncora e zarpou. Assobiava contente, enquanto manejava com destreza o timão de seu pesqueiro.
Não demorou a entrar numa zona bem conhecida pela quantidade de peixes. Mas... coisa estranha! Não encontrou ali nenhum de seus amigos pescadores. Por mais que procurasse, não via um barco sequer. Desconfiando de alguma surpresa desagradável, perscrutou o céu em todas as direções. O tempo continuava firme, com algumas nuvens espessas apenas. Não lhe pareceu haver sinal de chuva.
Lançou as redes. Curioso... Não havia peixes...
— Que estará acontecendo? — perguntou ele, falando sozinho.
O mar logo lhe deu uma resposta: as águas começaram a se mover com mais força, as nuvens espessas se avolumaram rapidamente, escurecendo o céu. Nunca ele vira uma tempestade armar-se tão de repente!
— É por isso que não havia peixes!... — disse para si mesmo.
Marujo destemido e experiente, Edgard não se alarmou. Acionou o motor e tentou dirigir o barco de volta à praia. Porém este não obedecia mais aos movimentos do timão, as ondas cada vez mais fortes o arrastavam em sentido contrário. Nesse momento, viu passar pouco além seu amigo Luís, pescador também, que avançava penosamente rumo à terra firme e lhe gritava:
— Edgard! Meia volta! A tempestade vai ser tremenda...
Quase não conseguia ouvir... O vento estava muito forte. Usou toda a sua perícia para tomar a direção certa, mas inutilmente: o barco vogava como se não tivesse leme e a correnteza o afastava mais e mais da terra firme. Uma chuva torrencial veio agravar ainda mais a situação.
Na iminência de uma tragédia inevitável, Edgard se encomendou à Virgem Santíssima. Nada mais podia fazer, senão rezar. Batido por uma grande onda, o barco girou violentamente, Edgard sentiu um forte golpe e caiu sem sentidos.
Quando voltou a si, encontrava-se numa praia. Estava meio tonto, latejava-lhe a cabeça, doía-lhe todo o corpo. Com muito custo pôs-se de pé, olhou ao redor e pareceu-lhe estar em alguma ilha desconhecida. De seu barco, viu apenas alguns destroços espalhados pela praia.
A quem pedir ajuda? Só lhe restava recorrer ao Céu. Tirou do pescoço sua medalha da Virgem do Carmo, ajoelhou-se e rezou fervorosamente.
Depois dessa oração, sentiu revigorarem-se suas forças. Caía a tarde. Recolheu o que restava do barco e fez uma cabaninha, cobrindo-a com folhas de palmeira, para proteger-se do frio durante a noite.
Na manhã seguinte, foi despertado pelo ruído de um bando de alegres gaivotas que pescavam. Sentia muita fome e não havia nada para comer. Resolveu explorar “sua” ilha à procura de frutas.
Andou, andou, andou... Não achou nada que levar à boca, mas reconheceu o local onde se encontrava: era uma ilha rochosa e desértica, que não estava na rota de nenhum barco pesqueiro, muito menos de algum navio.
O Sol estava mais alto no céu e a fome aumentava! Decidiu pescar. Encontrou entre os escombros do barco um pedaço de linha e outro de arame com os quais improvisou um anzol, e pronto... o restante era questão de habilidade. Com isso e alguns moluscos servindo de isca, não lhe foi difícil arrastar quatro peixes para a terra firme.
Após várias tentativas fracassadas, conseguiu fazer fogo junto à cabana, em um dos lados protegido do vento. Assou dois peixes grandes, temperados com o sal do mar. Pareceram-lhe deliciosos, melhores, até, que os que sua esposa, Adelaide, preparava tão bem.
Depois de saciada a fome, resolveu explorar o outro lado da ilha. Quem sabe se avistaria algum barco...
Caminhou muito, subiu e desceu rochedos, mas a certa altura sentiu um forte cheiro de queimado. Cheio de desconfiança pelo que estaria acontecendo, correu aflito de volta à praia. Lá chegando, viu a cabana toda queimada e uma coluna de fumaça que subia de um monte de folhas secas atingidas pelas chamas.
Edgard, que até então se mantivera forte, não aguentou mais. Sentou-se na areia, com a cabeça entre as mãos, e não conseguiu conter o desânimo e as lágrimas. Havia pedido ajuda aos Céus e Deus parecia tê-lo abandonado!
Por fim, cansado de toda a tensão daquele dia, adormeceu ali mesmo na praia, sob o Sol inclemente da tarde. Quanto tempo dormiu, ninguém sabe. Foi acordado por alguém que lhe tocava o braço e o chamava:
— Edgard!
Era Luís, seu amigo pescador. Levantando-se de um salto, Edgard o abraçou e disse:
— Luís! Como chegou até aqui? Esta ilha não é rota de barcos...
— Depois que passou a tempestade, lancei-me de novo ao mar, decidido a encontrá-lo. Procurei sem resultado por todos os nossos rincões conhecidos, e já estava voltando, pois a tarde está chegando ao fim e no escuro seria impossível prosseguir a busca. Inesperadamente, vi uma coluninha de fumaça subindo por detrás desses rochedos. Deixei o barco ancorado e vim a nado, pois não é possível navegar por entre essas pedras. Vamos, homem, dentro em pouco será noite, e sua família o espera!
No percurso de volta a casa, Edgard meditava com profunda gratidão sobre a maneira pela qual a Virgem Santíssima levara até Deus suas preces: aquele incêndio, que lhe parecera a desgraça completa, havia salvado sua vida!
* * *
Às vezes, Deus age assim conosco, parecendo ter Se esquecido de nós. Mas Ele permite a aparente derrota, ou mesmo a desgraça, para daí tirar um bem maior. Portanto, ainda que não entendamos, confiemos, pois Ele nunca nos abandona! Há males que vêm para bem!