quarta-feira, 26 de março de 2014

Visita ao orfanato

O Papa Francisco, em um discurso, conclamou os catequistas a imitarem Cristo, tendo a coragem de sair de si, de ir às periferias físicas ou espirituais, como a das crianças que não sabem sequer fazer o Sinal da Cruz, na certeza de lá encontrar Jesus em cada pessoa necessitada.

Os Arautos do Evangelho - setor feminino - juntamente com um grupo de jovens da Paróquia Nossa Senhora das Graças visitaram um orfanato oferecendo um pouco de carinho e alegria, cantaram algumas músicas e rezaram com os órfãos diante de um oratório de Nossa Senhora de Fátima.

domingo, 9 de março de 2014

A lenda de Santo Elígio

               Um dia estava o Senhor Deus todo pensativo no Céu. Tanto que Jesus lhe perguntou:
               — Que é que tendes, meu Pai?
               Respondeu o Senhor:
               — Olha lá no fundo. Lá em baixo: Vês naquela vila, numa das últimas casas, aquela grande e bela oficina de ferrador?
               — Vejo sim, Senhor.
               — Pois bem. Lá está uma criatura que eu quisera salvar. Chama-se Elígio. É sem dúvida um homem bom, obediente às minhas leis, caridoso com os pobres, pronto para servir a todos. Da manhã até à meia-noite ele está sempre aplicado ao trabalho, sem que jamais escape de sua boca uma blasfêmia ou uma palavra suja. Parece-me mesmo digno de tornar-se um grande santo.
                Jesus perguntou:
               — E o que é que o impede de ser esse grande santo?
               — É o orgulho dele, meu Filho. É um artífice de primeiríssima ordem, mas está convencido de que não há no mundo quem seja capaz de superá-lo. E tu sabes que presunção significa perdição.
               — Meu Pai, se consentis que eu desça à terra, tentarei a conversão dele.
               — Pois então vá, meu Filho. Converta-o.

               E Jesus desceu à terra. Vestiu uma roupa de aprendiz de ferreiro, pôs nos ombros uma caixa de ferramentas, e sem mais, o divino operário pôs-se a caminho da oficina do Mestre Elígio. À entrada lia-se: "Ferrador Elígio, mestre dos mestres. Quase sem fogo bate qualquer ferradura".

               O jovem aprendiz chegou até à porta, e descobrindo a cabeça, exclamou:
                — Bom dia, mestre! Bom dia a todos. Se precisam de um ajudante de ferreiro, aqui o tendes.
               — Por enquanto, não preciso— respondeu Elígio.
               — Então adeus, mestre. Ficará para outra vez.

               E Jesus continuou o seu caminho pelo povoado.  Logo adiante,  topou com um magote de gente em outra oficina  e disse a eles:
               — Não pensei que numa oficina, onde deveria haver muito trabalho, recusassem meu serviço.
               — Escuta, meu bom rapaz — disse o chefe do grupo: — Ao chegar lá, como foi que você saudou o Mestre Elígio?
               — Ora, eu saudei como se saúda a todos, dizendo: Bom dia, mestre, e a todos que lá trabalham.
                — Não, meu caro. Não era esse o modo de saudá-lo. Você precisava chamá-lo de  mestre dos mestres. Não viu o que está escrito sobre a porta?
               — É verdade — disse Jesus. — Vou tentar novamente. Voltou à oficina e disse:
               — Senhor Elígio, mestre dos mestres, o senhor  precisa de um ajudante?
               — Claro que preciso. Entre. Há trabalho para você também. Mas lembre-se bem do que lhe digo uma vez por todas. Quando você me saudar, deve chamar-me mestre dos mestres. Não é por orgulhar-me, mas em toda a terra não se encontram homens como eu, que com duas escaldaduras batem qualquer ferradura,.
               — Na minha terra bate-se a ferradura com uma escaldadura apenas.
               — Com uma só? Ah! meu rapaz, não venhas contar-me lorotas.
               — Pois bem, eu lhe mostrarei se digo ou não a verdade, senhor mestre de todos os mestres.
                E Jesus tomou um pedaço de ferro, atirou-o ao fogo, soprou e atiçou as brasas. Quando o ferro estava em brasa, dispôs-se a pegá-lo com a mão.
               — Pobre tonto! — gritou-lhe um dos presentes — tu queres te queimar?
               — Não tenhais medo — replicou Jesus. — Graças a Deus, em nosso país não precisamos de tenazes.
               Tomou com uma das mãos o ferro em brasa, colocou-o sobre a bigorna, e com o seu martelo bateu-o, deixando-o tão perfeito como ninguém fizera até então.

               Mestre Elígio disse: — Basta que eu queira, e sou capaz de fazer o mesmo.
               E de fato tomou uma pedaço de ferro, lançou-o na forja, soprou e atiçou o fogo. Quando o ferro estava bem vermelho, quis pegá-lo para levar à bigorna, mas queimaram-lhe os dedos. Quis fazê-lo depressa e resistir à dor, mas foi obrigado a largar o ferro e recorrer às tenazes. Entretanto, o ferro esfriou. O pobre Mestre Elígio fez força, bateu, suou, mas não conseguiu fazer o que fizera o rapaz.
               — Escutem — diz o rapaz — parece-me que ouço o andar de um cavalo.
               Mestre Elígio correu à porta e viu um cavaleiro que parou diante da oficina. Ora, convém saber que aquele cavaleiro era São Martinho. Ele cumprimentou e disse:
               — Venho de muito longe, e o meu ginete perdeu um par de ferraduras. Preciso encontrar um ferrador.
               Mestre Elígio, todo orgulhoso, assim lhe falou:
               — Melhor do que aqui não encontrareis, senhor cavaleiro. Estais diante do melhor ferrador daqui e de toda a França. Pode-se dizer com verdade que ele é o mestre dos mestres. Rapaz, segura um pouco a pata do cavalo.
               — Segurar a pata do cavalo? — observou Jesus. — Em nossa terra isso não é necessário.
              — Esta agora é boa! — gritou mestre Elígio. — Como fazeis para ferrar um cavalo sem segurar a pata?
               O rapaz tomou o puxavante (instrumento para aparar o casco do cavalo), aproximou-se do animal, e com um golpe lhe cortou o casco, levou-o à oficina e apertou-o no torno. Depois limou o casco, aplicou-lhe a ferradura nova que acabara de bater, e com o martelo meteu-lhe os cravos. Em seguida desapertou o torno, levou o casco ao cavalo e adaptou-o bem. Fazendo um sinal da cruz, disse:
               — Meu Deus, fazei que o sangue estanque.


                E a pata do cavalo estava pronta, ferrada e segura, como jamais se vira igual. Enquanto o primeiro aprendiz arregalava os olhos, Mestre Elígio exclamou:
               — Caramba! O mesmo eu hei de fazer também.
               E pôs mãos à obra. Armado do puxavante , cortou o casco (o pé) do animal. Levou-o para dentro da oficina, apertou-o no torno e meteu-lhe os cravos, tudo como fizera o rapaz. Depois — e aqui está o mais difícil — devendo colocar o pé no lugar, aproximou-se do animal e ajustou-o à perna do melhor modo que pôde. Mas... o sangue escorria, e o pé caiu no chão.
               Agora a alma soberba de Mestre Elígio se achava confundida. Entrou na oficina, para ajoelhar-se aos pés do jovem, mas este desaparecera, como desapareceram o cavalo e o cavaleiro. O pranto inundou o coração do Mestre Elígio. Reconhecera que acima dele, pobre mortal, havia outro Mestre que era inimitável. Tirou o avental de couro, abandonou a oficina e pôs-se a percorrer o mundo, anunciando a palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo.



(Fonte: Pe. Francisco Alves, C.SS.R., "Tesouro de Exemplos" - Vozes,