segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Imaculado Coração de Maria

Em seu trabalho de evangelização e propagação da devoção mariana, as irmãs da Sociedade de Vida Apostólica Regina Virginum visitaram algumas casas dos fiéis da paróquia Nossa Senhora das Graças levando a imagem peregrina do Imaculado Coração de Maria.

A família reunida faz uma oração e coroa a imagem da Virgem introduzindo-a como Rainha de seus corações e lares.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Atividades Capela São José

Aos domingos, vários Arautos ajudam na Capela São José da Paróquia Nossa Senhora das Graças dando cursos de pré-catequese


catequese para a Primeira Comunhão

 e para grupo de jovens.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Como surgiu a cerimônia da Quarta-Feira de Cinzas?

Quarta-Feira de Cinzas marca o início da Quaresma, os 40 dias dedicados à purificação e boas obras que nos preparam para bem considerar a Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, na Semana Santa.
Qual a origem do costume de se colocar cinza sobre a cabeça do fiel nesse dia?
A Igreja primitiva assim marcava, no primeiro dia da Quaresma, os cristãos obrigados a fazer penitência pública, em razão de alguma falta grave, para distingui-los dos demais. Por determinação do Papa Urbano VI, no Concílio de Benevento, realizado em 1091, estendeu-se à universalidade dos fiéis esse costume, uma vez que todos temos motivos para a contrição.
Com efeito, já no Antigo Testamento, a cinza imposta na cabeça foi um sinal de arrependimento e expiação. Jó, entristecido por ter advogado a causa da sua inocência com termos pouco comedidos, exclama: “Repreendo-me a mim mesmo, e faço penitência no pó e na cinza” (Jó 42, 6). Para restaurar o pecado cometido por Achan na tomada de Jericó, Josué e os anciãos de Israel cobrem-se de cinza (Josué 7, 6).
E o próprio Jesus utiliza este símbolo quando diz que os habitantes de Tiro e de Sidônia teriam se arrependido sob o cilício e a cinza se tivessem visto os milagres obrados por Ele na Judéia (Mt 11, 21).
Para se obter a matéria a ser usada na cerimônia do início da Quaresma, são queimados os ramos bentos no Domingo de Ramos do ano anterior.
A cinza é também símbolo do nada das coisas humanas: “Lembra-te que és pó e ao pó hás de voltar” (cf. Gen 3,19), nos diz a Igreja nesse dia, incitando-nos à humildade.
Façamos penitência e, buscando um confessionário, declinemos com humildade todas as nossas faltas, à espera da absolvição sacramental, a fim de recuperarmos o estado de graça e restabelecer-se em nós a inteira amizade com Deus. O grande Patriarca da Igreja muito pode nos ajudar nessa sobrenatural tarefa. São José possui uma especial audiência junto a Jesus e a Maria, sua intercessão é poderosa e ele muito se alegra ao ser invocado

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Missa e missão

Pe. Caio Newton de Assis Fonseca, E.P .
Sem o domingo não podemos viver!” — declararam os mártires de Abitinas aos juízes do Império Romano. “No início do século IV quando o culto cristão era ainda proibido pelas autoridades imperiais, alguns cristãos do norte da África, que se sentiam obrigados a celebrar o dia do Senhor, desafiaram tal proibição. Foram martirizados enquanto declaravam que não lhes era possível viver sem a Eucaristia, alimento do Senhor: Sine dominico non possumus — sem o domingo, não podemos viver” (Sacramentum Caritatis n. 95).
Com este belo exemplo, quis o Papa Bento XVI ressaltar a devoção ardorosa dos primeiros cristãos à Eucaristia, apesar das dificuldades e riscos daquela época, e estimularnos a imitá-los: “Exorto todos os leigos, e as famílias em particular, a encontrarem continuamente no sacramento do amor de Cristo a energia de que precisam para transformar a própria vida num sinal autêntico da presença do Senhor ressuscitado. Peço a todos os consagrados e consagradas para manifestarem, com a própria existência eucarística, o esplendor e a beleza de pertencer totalmente ao Senhor” (idem n. 94).
Na Eucaristia, a força para evangelizar
Como é diferente, hoje, a nossa situação no Ocidente, comparada com a dos primórdios da Cristandade! Talvez o maior risco que sejamos obrigados a enfrentar, para cumprir o preceito dominical, seja o de não conseguir fazer coincidir nossas conveniências pessoais com o horário da Missa. Ou o ter de suportar alguns minutos de automóvel para chegar até a igreja mais próxima. E a extrema facilidade de acesso à Eucaristia pode levar alguns a não dar o devido valor ao mais sublime dos sacramentos.
Porém, nos primeiros séculos do Cristianismo, como era arriscado, em épocas de grandes perseguições, participar do banquete eucarístico! Essas circunstâncias, tão adversas, certamente contribuíam para ressaltar o valor infinito da Eucaristia, naquelas primeiras comunidades de cristãos. Pois era no Pão Eucarístico que eles encontravam forças para cumprir sua missão evangelizadora na sociedade pagã e, tantas vezes, dar testemunho de Cristo com o derramamento do próprio sangue.
A “casa-igreja”
Quando se fala nas Missas da primeira era do Cristianismo, logo nasce o interesse de conhecer como e onde eram celebradas. Com freqüência se pensa que os cristãos só se congregavam nas catacumbas, parecendo até que essas estreitas galerias subterrâneas, onde eram enterrados os mortos, tivessem sido escavadas com a finalidade quase exclusiva de praticar o culto em segurança.
Nas épocas de perseguição mais sangrenta, certamente eram as catacumbas os lugares de reunião. Mas, quando o furor persecutório dos imperadores romanos amainava, a vidavoltava a uma relativa normalidade, e eram as residências dos próprios cristãos que serviam de igreja.
Evidentemente, eram escolhidas as casas mais amplas, que pessoas abastadas cediam para a celebração do culto divino. Ainda hoje, os alicerces de algumas basílicas romanas conservam vestígios da antiga vivenda que desempenhou outrora a função de templo sagrado.
A própria disposição interna dos cômodos das residências ricas se prestava providencialmente a esse objetivo, pois nelas havia uma nítida separação entre a parte pública e a área íntima. E as primeiras igrejas construídas conservavam ainda uma distribuição de salões semelhante à dessas casas.
No pátio se reuniam os fiéis. Os catecúmenos, que não participavam de toda a liturgia da Missa, podiam ficar no vestíbulo. E a refeição eucarística podia ser celebrada no triclinium ou sala de jantar.
A celebração dominical dos primeiros cristãos
Os cristãos se encontravam no sábado, ao cair da tarde, para a vigília pela qual se preparavam, por meio de preces e da recitação de salmos, para celebrar a ressurreição do Senhor.
A Celebração Eucarística iniciava-se à meia-noite e encerrava-se com os primeiros fulgores da aurora. A nossa vigília pascal ainda é uma reminiscência dos tempos apostólicos.
Para finalizar a cerimônia, o diácono proclamava, tal como hoje: “Ite, missa est”. O termo Missa, com o qual se denomina atualmente a Celebração Eucarística, tem aí sua origem.
O Santo Padre Bento XVI assim comenta o significado mais profundo desse último diálogo litúrgico: “Nesta saudação, podemos identificar a relação entre a Missa celebrada e a missão cristã no mundo. Na Antiguidade, o termo ‘missa’ significava simplesmente ‘despedida’; mas, no uso cristão, o mesmo foi ganhando um sentido cada vez mais profundo, tendo o termo ‘despedir’ evoluído para ‘expedir em missão’. Deste modo, a referida saudação exprime sinteticamente a natureza missionária da Igreja” (idem n. 51).
Da Missa para a missão
Esse aspecto missionário da sua vocação de batizados, tinham-no bem presente os cristãos dos primeiros séculos. O “ite missa est” proferido pelo diácono era um verdadeiro mandato, cumprido zelosamente no dia-a-dia, muitas vezes com o sacrifício da própria vida.
Para eles, a missão na sociedade pagã era uma decorrência da Missa, tal como continua a nos lembrar o Papa: “Não podemos abeirar-nos da mesa eucarística sem nos deixarmos arrastar pelo movimento da missão que, partindo do próprio Coração de Deus, visa atingir todos os homens; assim, a tensão missionária é parte constitutiva da forma eucarística da existência cristã” (idem n. 84).
A missão de Tarcísio
Um jovem acólito1 romano, Tarcísio, protomártir da Eucaristia, é um exemplo sublime dessa continuidade entre a Missa e a missão evangelizadora. Certamente, foi ao final de uma Missa, já perto do despontar da aurora, que ele recebeu uma importante missão do celebrante, talvez o próprio Sumo Pontífice: levar a seus irmãos encarcerados o Pão Eucarístico.
Na véspera do “combate” com as feras, era concedido aos condenados à morte na arena do Coliseu um certo abrandamento do regime carcerário, e eles podiam receber visitas. Os cristãos aproveitavam essas circunstâncias para levarem Jesus Sacramentado aos que iam travar o supremo “combate”, dando testemunho de Cristo com o sacrifício da própria vida.
Ao receber das mãos do sacerdote a Eucaristia, envolta em tecidos preciosos, Tarcício deve ter sentido no mais profundo da alma um sobressalto de alegria: estava sendo convocado para arriscar sua jovem vida por Cristo! E, sem dúvida, sentiu também no seu interior o desejo intensíssimo de imitar aqueles que no dia seguinte iriam enfrentar o martírio, por amor a Deus. Guardou cuidadosamente no interior de sua túnica o inapreciável tesouro que acabava de lhe ser confiado e partiu em missão: “Ite, missa est”.
Não se sabe com segurança o fator pelo qual se tornou descoberta a missão de Tarcísio. Talvez a alegria sobrenatural que transparecia de seu rosto, a limpidez de seu olhar virginal ou a pressa de alcançar o objetivo o tenham denunciado. O certo é que ele foi interceptado por um grupo de pagãos que desconfiaram de suas intenções e suspeitaram que fosse cristão. Tarcísio preferiu morrer apedrejado a permitir que o Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo fosse profanado pelos pagãos. Seu martírio é descrito, pelo Papa São Dâmaso, com a característica concisão latina, na lápide de seu túmulo, comparando-o a Santo Estevão.
A nós, não nos é solicitado arriscar a vida, pelo martírio, para cumprirmos nossa missão evangelizadora no mundo, como a Tarcísio, mas podemos pedir que ele, “juntamente com muitos outros santos e beatos que fizeram da Eucaristia o centro da sua vida, intercedam por nós e nos ensinem a fidelidade ao encontro com Cristo ressuscitado! Também nós não podemos viver sem participar no sacramento da nossa salvação e desejamos ser iuxta dominicam viventes, isto é, traduzir na vida o que celebramos no dia do Senhor” (Sacramentum caritatis n. 95).

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Por que os bons sofrem e os maus são premiados?

Os pecados e extravios da humanidade chegaram a um ponto inimaginável e, contudo, observando-se a atitude de Deus para com os homens na vida corrente — protegendo a uns contra a infelicidade e permitindo que ela aconteça a outros — parece, às vezes, que há uma inversão de papéis.
Com frequência, vê-se que o indivíduo iníquo, fraudulento, adúltero ou ladrão é bem sucedido nos seus negócios, nas suas amizades, na sua saúde, dando a idéia de que o pecador sofre pouco nesta Terra. Pelo contrário, analisando-se a existência do homem justo, não raro se verifica que desgraças de toda ordem se abatem sobre ele.
De maneira que, quanto aos bons, para os quais se esperaria um atendimento especialmente solícito, dirse-ia haver uma retração de Deus; e para os maus, o Criador concederia — ou permite que o demônio lhes alcance — tudo para terem uma vida feliz.
Em suma, Deus não impede que os bons sejam provados e sofram de um modo especial, nem que as coisas agradáveis se passem com os maus, quase que recompensados nesta Terra por atos merecedores de castigos. Por quê?
Santo Agostinho o explica de forma luminosa, perguntando-se exatamente qual seria o motivo de os justos não serem premiados nem os maus punidos neste mundo. E responde:
Dados o pecado original e as misérias do homem, se as pessoas ordinárias soubessem que seriam felizes se fossem boas, e infelizes se ruins, por venalidade e interesse elas praticariam o bem e não o mal. Porém, não haveria nisso nenhum amor a Deus, nenhuma adesão à virtude pela virtude, nenhuma aversão à maldade pela maldade. Por exemplo, uma mulher de péssimos costumes evitaria seus desmandos e seria casta, somente porque essa conduta lhe traria uma existência mais aprazível.
Diante dessas circunstâncias, tornar- se-ia quase impossível conduzir esta vida de maneira a diferenciar os bons dos maus, e fazer com que os primeiros provassem seu amor a Deus, e os segundos, pelo contrário, deixassem ver sua infâmia.
Ora, premiando o mau (ou ao menos permitindo que tudo de agradável lhe aconteça), e levando os bons em meio a dificuldades, Deus deixa patente o fato de que os justos seguem os mandamentos d’Ele porque O amam, e não por uma venalidade de oportunistas. A verdadeira virgem não o é por um cálculo de felicidade, e sim porque ama a virgindade. E quem se prostitui, o faz porque é vil e só deseja as vantagens terrenas.
Se assim não fosse, a vida seria incompreensível neste mundo. Ao contrário, dessa forma ela se torna inteligível e acabamos por saber quem é bom e quem é mau. Bons, aqueles que amam a virtude, vão de encontro à dor e dela se revestem como Nosso Senhor Jesus Cristo se deixou revestir da túnica com que depois foi torturado. Maus, os que correm atrás do prazeroso, e geralmente só lhes sobrevêm coisas agradáveis porque são ordinários.
Considerada assim, a felicidade seria quase um sinal do qual se deve suspeitar. Quer dizer, quando tudo é propício a alguém, tomemos cuidado, pois algo de bem pode lhe estar faltando. Por outro lado, ao vermos um coitado a quem sucede tudo de mau, examinemo-lo com simpatia e respeito, pois, embora o infortúnio não represente um signo inequívoco de virtude, é provável que o bem esteja do lado dele.*
Cf  Revista Dr Plinio 78

As irmãs da Sociedade de Vida Apostólica visitam um lar para idosos levando a imagem de Nossa Senhora de Fátima e palavras de esperança.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Comentários ao Salmo 31

Porque me calei, os meus ossos envelheceram, enquanto eu clamava todo o dia.
Trata-se aqui daquele que pecou e calou a sua falta. Quer dizer, não contou a Deus, não confessou o que fez. Em razão dessa indiferença, desse afastamento em relação a Deus, ele foi se ressecando, debilitando, definhando.
Nesse versículo há também um sentido peculiar que merece atenção: o pecador “clamava todo o dia”, mas entretanto se calou. O que podemos interpretar como tendo ele contado seu pecado a algum amigo, parente ou conhecido, não porém Àquele a quem importava revelar, isto é, a Deus Nosso Senhor.
Naquela época, a Igreja Católica não estava fundada, pois os Salmos datam de séculos anteriores a Jesus Cristo. Entretanto, uma vez instituída a Santa Igreja, o personagem por excelência com quem se deve falar é o confessor. Pecou, declare ao padre — representante de Deus e da Igreja — a sua falta e peça perdão.
Mas, se a pessoa não recorre ao tribunal da penitência, não declara o mal que praticou, mantendo-se afastada dos Sacramentos, seus ossos secam dia e noite, e sua alma vai decaindo. Pelo contrário, como adiante se verá, quando ela fala a Deus, ou seja, ao confessor, a sua alma refloresce.
Porque a tua mão tornou-se pesada sobre mim de dia e de noite...
Deus castigou esse homem, porque não tinha confessado. Então, noite e dia, para conduzi-lo à penitência, o punia.
... eu revolvia-me na minha dor, enquanto mais se cravava o espinho.
Ele se remexia no seu sofrimento, e o espinho, que é a consciência do pecado cometido e não declarado a Deus, aprofundava a chaga causada pela falta. É o resultado da impenitência do indivíduo que não quer se humilhar diante de Nosso Senhor.
Inclinando-se diante de Deus
Eu Te manifestei o meu pecado, e não ocultei a minha injustiça. E disse: Confessarei ao Senhor, contra mim mesmo, a minha injustiça...
Afinal, ele falou, confessou a Deus seu pecado. É a declaração dele:
“Comparecerei diante do Senhor e falarei contra mim mesmo. Reconheço o quanto minha falta é censurável porque ofende os vossos Mandamentos. E a malícia, ó Deus, dos atos que pratiquei, também está diante de mim. E dói-me, envergonha- me ter cometido esse pecado. Aos vossos pés, meu Senhor, falo mal de mim, me inclino e peço perdão.”
Este, verdadeiramente, é o ato regenerador. Enquanto o faltoso não toma essa atitude de penitência e humildade, reconhecendo-se indigno de estar na presença de Deus e de que sobre ele pouse o olhar infinitamente santo do Altíssimo, do qual tem vontade de fugir — ele fica posto de lado, revolvendo-se na sua dor.
Porém, se proceder como deve, e dizer: “Senhor, eu pequei. Essa ação que cometi é contrária à vossa Lei santíssima, lindíssima, boníssima, superior a todo o louvor. Foi contra ela que me revoltei. Sou, portanto, alguém que nada vale. Mas, envergonho- me e suplico que me perdoeis” — ele terá feito a confissão.
... e Tu perdoaste a malícia do meu pecado.
Todo pecado tem uma maldade intrínseca, e por isso o Salmista declara a Deus: “Meus pecados têm malícias, e quando os confessei a Vós, percebi a maldade de cada um deles.”
Por isso orará a Ti todo [homem] santo, no tempo oportuno.
O homem que assim reza, começa a se tornar santo. É como o dia que principia a nascer e o sol pousa sobre o pecador. Ele é chamado pela primeira vez de santo, porque confessou sua culpa.
Cumpre notar que a palavra “santo” não significa possuir o pecador a santidade de quem praticou as virtudes teologais e cardeais em grau heróico, mas que ele se encontra em estado de graça, é amigo de Deus.
Então o homem que confessou sua falta é justo, e no tempo oportuno rezará a Deus.

Revista Dr Plinio 78

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Meios para vencer a batalha da santificação

A prece verbal ou mental, particular ou litúrgica, não constitui o fim da vida espiritual. Este fim é a santificação, isto é, a morte à nossa natureza decaída e nossa reedificação em Jesus Cristo (Rom. 6, 3-11). Mas a prece é um meio eficaz para dotar o católico de maiores recursos para o combate interior. O auxílio divino, porém, é concedido segundo a reta intenção de quem pede, em qualquer espécie de prece.
Assim também os sacramentos, embora contenham objetivamente a graça, e sejam por aí um recurso certo, de nada servem sem a correspondência interior de quem os recebe. Da mesma forma, o Santo Sacrifício da Missa é uma torrente caudalosa de graças, mas a maior ou menor recepção delas, com maior ou menor aproveitamento, depende essencialmente das disposições interiores dos assistentes.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A oração tudo vence

 Louis Veuillot escreveu o livro Parfum de Rome, onde reúne notas sobre uma de suas viagens à Cidade Eterna, que até 1870 esteve sob o poder temporal do Papado.
Diário de uma alma em busca da virtude
Nessa obra lemos este trecho, muito bonito, por diversas vezes objeto de meus comentários:
Num quarteirão deserto, nos muros de uma igreja, Enrico [é o próprio Veuillot], copiou e traduziu para mim as inscrições seguintes, traçadas a lápis por uma mão firme e exercitada [portanto, é um anônimo que escrevia isto]: ‘No dia 14 de setembro eu me encontro com má saúde por minha culpa, pela inquietação e pela desobediência. A partir deste momento, onze horas da manhã, decidi, com a ajuda de Deus e de Maria Santíssima, não mais me atormentar, e recuperar a verdadeira paz. São José, rogai por nós. Um mês depois: 14 de outubro. Até este momento ainda não consegui, ou melhor, não obtive o que escrevi no dia 14 de setembro, mas agora decidi fazer tudo.”
Sabemos que, nos primórdios de nossa vida espiritual, geralmente sucede isto: tomamos uma decisão e nos convertemos. Após um mês, fazemos exame de consciência e verificamos que quase nada progredimos. Então resolvemos cumprir todos os propósitos estabelecidos anteriormente, como manifestou a pessoa à qual o texto se refere.
“Dia 15 de novembro: renovo tudo aquilo que prometi, a fim de chegar a executá-lo. Dia 23 de novembro: falhei, mas prometi a mim mesmo, com toda a alma, de executar.Dia 28 de novembro: decidi ser bom. Dia 31 de dezembro: quero obedecer sempre, para agradar Maria Santíssima até a morte. 28 de janeiro: não há mais inquietação, por amor a Maria Santíssima, e renovo hoje aquilo que tinha deliberado no dia 1º de janeiro. Dia 1º de março: Não. As inquietações cessaram. Dia 29 de março: Não mais me atormentar, não mais pecar.
Nas duas últimas datas, a inscrição está rodeada de um desenho que representa duas palmas formando uma cruz. Devo confessar que estas declarações, feitas ingenuamente por uma alma provada e enfim vitoriosa, não me tocaram menos do que se eu as tivesse lido nas catacumbas, das quais elas parecem ter o perfume...”
O mesmo admirável aroma dos primeiros martírios
É deveras bonito o comentário de Veuillot, cujo trecho nos leva a admirar o triunfo da graça. Pois trata-se de uma alma que em diversas oportunidades firmou boas resoluções, sem lograr mantê-las. Em seguida, renovava os bons propósitos e tinha novas quedas. Afinal, à força de rezar — era uma pessoa piedosa, ciente de que sem o auxílio divino, implorado com perseverança, nada alcançaria — obtém o que tanto almejava. Depois de muito tempo e de vários insucessos, conquistou a vitória na sua vida espiritual.
Era uma alma perseguida por inquietações (talvez escrúpulos, ou alguma má inclinação à qual ela dava consentimento) e até revoltada, porque não obedecia a uma certa autoridade cujas determinações deveria acatar.
Após as recaídas, e à custa de orações, acabou chegando um determinado momento em que ela pôde dizer-se obediente, pacífica e tranquila. Então, com o senso artístico peculiar ao italiano, adornou com duas palmas as datas que representavam a sua vitória.
Considerando que essas notas traduzem uma situação comum em qualquer trajetória espiritual, somos levados a perguntar porque a pessoa em questão resolveu gravá-las nos muros de uma igreja. Certamente porque foi o lugar onde recebeu uma graça particular, e onde, a horas furtivas, vinha inscrever na pedra do templo a sua confissão a Deus. Essa alma traçou ali seu diário, por desígnios da Providência, a fim de que fosse copiado e analisado por Louis Veuillot. E é este comentário do grande literato que nos interessa.
Diz ele que o fato era digno de estar escrito na parede de uma catacumba romana, pois tem o perfume dela.
Ora, isso nos mostra o caráter perene da Igreja; revela-nos como, nas condições da vida hodierna, é possível repetir toda a glória do seu remoto passado. Com efeito, uma alma fiel que luta contra suas próprias misérias e que, apesar das infidelidades, roga constantemente o socorro de Nossa Senhora, para se ver resgatada de suas faltas e livre do império delas — essa alma realiza algo tão belo quanto o cristão que enfrentava no Coliseu, ou em outra arena, os leões e os tormentos do martírio.
Realmente, para quem conhece o valor das coisas espirituais, a seriedade e o desejo de cumprir o dever, o saber se humilhar quando se cai, decidir levantar-se de novo e confiar na misericórdia de Maria, possui um perfume admirável. É o bom odor do sofrimento humano suportado com fé. No episódio descrito por Veuillot se percebe a alma sofredora que se dilacerou para conseguir a fidelidade aos seus propósitos. Ela teve uma fé que move as montanhas, e finalmente alcançou seu objetivo.
Ora, esse torcer e sangrar da alma para cumprir seu dever é uma forma de imolação que tem o aroma de todos os martírios. Quiçá não ateste o heroísmo num grau análogo ao daqueles cristãos sacrificados nos circos romanos. Porém, basta manifestar um certo sentido de heroísmo para exalar algo do perfume das catacumbas, todo feito do espírito de epopéia dos primitivos católicos que as freqüentavam.
Orar sempre, orar muito, sem desânimo
Cumpre colhermos dessas considerações uma aplicação para a nossa vida espiritual. E será compreendermos que jamais devemos desanimar quando não conseguimos observar os bons propósitos que fazemos. Ainda que tenhamos insucessos, é necessário rezar, confiar e orar mais, porque à força de pedir, o Céu se abrirá para nós.
Os que imploram com insistência a graça de praticar a virtude, por débeis que sejam, pertencem por excelência à categoria daqueles aos quais Nosso Senhor recomendou:
“Batei e abrir-se-vos-á; pedi e dar-se-vos-á”.
Quer dizer, é uma glorificação da prece como meio eficaz para o homem obter aquilo que, pelo seu próprio recurso, não alcançaria.
Alguém poderá dizer: “As minhas orações valem pouco”. Eu respondo: então reze muito. Pois se possuo apenas algumas moedas para adquirir uma jóia bastante valiosa, é-me necessário reunir uma grande quantia para comprá-la. Assim também, se julgo que minhas orações valem pouco, à força de acumulá-las, seu peso há de crescer. Se considero meu Rosário insuficiente, recitarei dois. E se não tenho tempo para os dois, direi um Rosário e uma Ave-maria. Como quer que seja, rezarei o mais possível, e essa persistência acabará por me alcançar do Céu a graça desejada.
A esse respeito, não posso deixar de mencionar, uma vez mais, a célebre parábola de Nosso Senhor no Evangelho.
É noite, e um homem já se encontra deitado com seus filhos, para dormir. Em certo momento, o vizinho lhe bate à porta, rogando-lhe um pedaço de pão.
— Chegaram hóspedes inesperados, e não tenho o que lhes servir — disse-lhe.
E o primeiro respondeu:
— Não posso atendê-lo, pois estou deitado com todos os meus filhos.
O vizinho continuou a bater e a insistir, até que o dono da casa lhe gritou:
— Não é por amizade, mas para me ver livre da sua amolação é que vou me levantar e lhe dar o pão.
Com essa parábola Nosso Senhor nos oferece o seguinte ensinamento: “Sede assim em vossas orações”. É como se Deus acabasse dizendo a cada um de nós: “Este é muito cacete. Vou atendê-lo”.
Tenhamos, pois, a excelsa virtude da caceteação. Saibamos ser importunos e pedir, pedir e pedir outra vez. No pedido mil e um obteremos mais do que suplicamos. Ganharemos uma paga imensamente grande.
Essa circunstância se dá de um modo ou de outro na vida de todos os homens, mesmo na daqueles que se acham adiantados na prática da virtude. Para galgarem um patamar ainda mais elevado nas vias do bem, é necessário rogar muito. Então peçamos, lembrando-nos desse diário visto por Louis Veuillot em Roma. A oração acaba vencendo tudo.
Uma palavra final. Se alguém estiver desanimado, desacoroçoado, julgando infrutíferas suas preces porque nada conseguem, dou-lhe este conselho: tome o Rosário, reze-o e nunca o abandone. Quando não puder recitá-lo, segure-o na mão e este gesto valerá por uma prece. Se possível, tenha em casa uma lamparina acesa constantemente junto a uma imagem de Nossa Senhora, e diga à Santíssima Virgem:
“Minha mãe, sou tão dissipado que não consigo rezar. Mas, quando olhardes para esta lamparina, lembrai-Vos de que eu quereria estar rezando. Ao menos este desejo subconsciente me acompanha a vida inteira.
Portanto, dirijamo-nos a Maria Santíssima em todas as ocasiões. Certo estou de que, se Ela demorar em nos atender, é porque nos reserva um dom imensamente valioso, muito maior do que podemos imaginar.
Revista Dr Plinio 78

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Aspectos terrenos que nos lembram a Deus

Na terra há uma porção de fatos que nos lembram - enquanto tal significam - o próprio Deus. Por exemplo, um pai ou uma mãe que embala uma criança. Que significado isto tem? Pai ou mãe por excelência é Deus Nosso Senhor, porque Ele não nos gerou apenas, mas nos criou. Sabemos que a vida de nossos corpos vem de nossos pais, mas a alma que cada um de nós recebe é diretamente criada por Deus. Nossos pais não são pais de nossas almas. E o que temos de mais importante é a alma, não o corpo. Deus é o Pai de nossas almas. Mas Deus é o criador de Adão e Eva, que foram os pais de todos os homens. Ele é, portanto, nosso Pai por excelência. O carinho do pai, o carinho da mãe nos lembram o carinho de Deus, o afeto de Deus, a solicitude de Deus.
Ao folhearmos a Escritura, encontramos um número enorme de comparações em que Deus alude a Si mesmo como sendo pai, alude a Si mesmo como sendo mãe, e depois mostra que Ele é mais do que o pai e a mãe. Uma das frases de Deus ao pecador, no Antigo Testamento, diz: "Ainda que teu pai ou tua mãe te esquecesse, Eu não me esqueceria de ti". Quer dizer, ainda que o homem cometa ações tão abomináveis que o pai ou a mãe o rejeitassem, Deus não o rejeitaria. Porque Ele é a fonte de toda misericórdia, e não abandona nenhuma criatura humana. Deus toma o pai e a mãe como significados dEle, convidando o homem a olhar  para algo mais alto, que é Ele, de quem o pai e a mãe são sinais.
Só o pai e a mãe? Toda autoridade existente na terra é significado de Deus. Tomemos a "autoridade" mais humilde que há, a do pastor que guia suas ovelhas. Nosso Senhor Jesus Cristo se comparou ao bom pastor. Quer dizer, Ele mesmo indicou que, havendo criado as ovelhas e o pastor, estabeleceu uma relação pastor-ovelhas que é imagem da relação Deus-homem. E indicou que, olhando um pastor que dirige os movimentos do rebanho, devemos nos lembrar dEle dirigindo os homens e a história.
É incontável o número de fatos materiais que significam fatos sobrenaturais. Outro é o seguinte: nas mesas de comunhão antigas, havia por vezes pinturas de veados bebendo água numa fonte. É alusão a um salmo:“"Sicut cervus ad fontem aquarum desiderat, ita desiderat anima mea ad te, Deus". Assim como o cervo vai para a fonte das águas, assim, ó Deus, a minha alma te deseja a Ti. É a significação, no reino animal, do desejo que a alma tem de Deus. Deus é a fonte de todas as águas, é a origem de todas as coisas. Que bonita essa comparação: uma fonte que brota; e Deus, que fez brotar tudo do nada! Como isso é majestoso! A fonte é um sinal de Deus. Assim como o cervo que corre velozmente, encontra uma fonte e pára para se dessedentar, assim nossa alma, correndo pelos caminhos da vida, tem sede de Deus. E nossa alma pára diante de Deus e "bebe".
Isso é do Antigo Testamento. Mas a Igreja faz aplicação para o Novo Testamento. Como pode alguém beber a Deus? É a Sagrada Eucaristia, que estava profetizada nisso. É a sede, ou fome, eucarística, o desejo de comungar. As saudades da alma que, por qualquer razão (está num local onde não há igreja) não pode comungar. Quando consegue, comunga como um cervo que vai à procura das águas.
Poderíamos ainda apontar mil outras aplicações.
Volto ao exemplo das autoridades. Não é só o pai que representa a Deus. Quantas vezes Deus se compara a um rei no Evangelho, ou no Antigo Testamento, para dar a entender que, se queremos ter idéia de como Ele é, contemplemos a autoridade régia. Não se trata da pessoa do rei, que pode ser um crápula, mas a autoridade do rei, os atributos, a missão, o poder, o cargo régios. É um fulgor de Deus.
O professor é um sinal de Deus enquanto ensinando. Simboliza a Deus que leciona a Si próprio às suas criaturas, que fala de Si e Se faz ver por suas criaturas. Deus, neste caso, tem um significado que é o mestre.
O patrão que dirige o trabalho, para que as coisas dêem certo, é um significado de Deus, porque é Deus ordenando todo o universo para que produza.
E daí para a frente, os senhores têm um número incontável de aplicações que são significados.*

*Excerto de um artigo publicado na Revista Dr Plinio nº 49