quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Peça teatral natalina


Oh! Divino Menino Jesus, perdão por minha negligência! Bem sabeis o quanto eu gostaria de Vos oferecer o melhor, o mais belo e o mais perfeito presente! E aqui estou diante de Vós sem nada para Vos oferecer... coloco-o nas de Vossa e nossa Mãe, Maria Santíssima, para que Ela Vos ofereça tudo quanto mais Lhe agrade!

Assista à peça teatral natalina encenada pelas Irmãs da Sociedade Regina Virginum dos Arautos do Evangelho clicando na imagem.



sábado, 22 de dezembro de 2012

Primeira Comunhão Capela Nossa Senhora de Fátima

“Não hesiteis em falar de Jesus aos outros”
"[...]O dia da minha Primeira Comunhão foi um dos mais belos da minha vida. Porventura não se passou o mesmo convosco? E por quê? Não foi tanto por causa das roupas lindas, nem dos presentes, nem sequer da refeição de festa; mas, sobretudo porque, naquele dia, recebemos pela primeira vez Jesus Cristo. Quando recebo a Comunhão, Jesus vem habitar em mim; devo acolhê-Lo com amor e escutá-Lo com atenção. No íntimo do meu coração, posso dizer-Lhe, por exemplo: “Jesus, eu sei que me amais. Dai-me o vosso amor para que eu Vos ame e ame os outros com o vosso amor. Confio-Vos as minhas alegrias, as minhas penas e o meu futuro”.
 Não hesiteis, queridas crianças, em falar de Jesus aos outros. Ele é um tesouro, que é preciso saber partilhar com generosidade. Na história da Igreja, o amor de Jesus encheu de coragem e força muitos cristãos, incluindo crianças como vós. Assim São Kizito, um rapaz ugandês, foi morto porque queria viver segundo o Batismo que tinha recebido. Kizito rezava; compreendera que Deus não é apenas uma pessoa importante, mas que Ele é tudo.
Excerto do discurso de Bento XVI no encontro com as crianças, em Cotonou, Benim, 19/11/2011









quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Jubilosas esperanças no advento do Messias

Em 17 de dezembro inicia-se a  última semana do Advento,  denominada  pela  Igreja  de  “semana da expectação”, já com as  vistas postas na festa do Natal. Durante esse período, a Esposa Mística de Cristo imagina o júbilo e a esperança da Santíssima Virgem diante do fato de que o Messias haveria de nascer, e Ela veria por fim a face bendita do Filho que estava gerando  em seu imaculado seio.
A Santíssima Virgem sente aproximar-se o reino de Nosso Senhor Jesus Cristo, restando apenas uma semana para que, pelo nascimento do Salvador, o império de Satanás sofra um golpe mortal e comece a derrocar.
A expectativa de todos os séculos posta na véspera do Natal
Tal conjuntura cumula de esperança a alma da Mãe de Deus, e por isso Ela é chamada, nesse período, Nossa Senhora da Expectação, ou Nossa Senhora da Esperança, ou ainda Nossa Senhora do Ó.
Esta última invocação se explica pelo fato de que, em cada um desses sete dias, a Igreja canta no Ofício Divino uma antífona que começa pela exclamação “Ó” Exprimem elas as alegrias de Nossa Senhora ao perceber dentro de si o Corpo de Jesus já completo, seus primeiros movimentos, e a idéia de que Ele ali orava ao Pai, como de dentro do mais prodigioso dos sacrários, assim como o Santíssimo Sacramento, hoje, reza no interior dos tabernáculos nos altares de todo o mundo.
As antífonas do “Ó”
Sete  são  as  antífonas  do  “Ó”, e a Igreja as canta com  o Magnificat da Hora de Vésperas, desde o dia 17 até o 23 de dezembro. São uma invocação  ao  Messias,  recordando os anseios com que era esperado por todos os povos antes de sua vinda, assim como  são uma manifestação do sentimento  com  que,  todos  os  anos, novamente O espera a  Igreja nos dias que precedem  a grande solenidade do Nascimento do Salvador.
Chamam-se  assim  porque  todas começam no latim com  a  exclamação  “O”.  Também são conhecidas como “antífonas maiores”.
Foram compostas por volta dos séculos VII-VIII e pode-se  dizer  que  representam  um  extraordinário  compêndio  da  cristologia  mais  antiga da Igreja, ao mesmo tempo que um expressivo resumo  dos desejos de salvação de toda a humanidade, tanto de Israel  do  Antigo  Testamento  como da Igreja do Novo Testamento.
São  breves  orações  dirigidas  a  Nosso  Senhor  Jesus  Cristo  que  condensam  o  espírito do Advento e do Natal.  A admiração da Igreja diante  do mistério de um Deus feito homem: “Ó!”. A compreensão cada vez mais profunda de seu mistério. E a súplica urgente: “Vinde!”.
Após a exclamação inicial,  segue-se um título messiânico  tomado do Antigo Testamento, mas entendido com a plenitude do Novo. É uma aclamação a Jesus, o Messias, reconhecendo  tudo  o  que  Ele  significa para nós. Terminam  com  uma  súplica:  “vinde  e  não tardeis mais”.
Ó Sabedoria... Ó Adonai... Ó Raiz de Jessé... Ó Chave de David... Ó Oriente... Ó Rei das nações... Ó Emanuel...
Fazem notar os estudiosos  da beleza da Liturgia que, a  serem lidas de trás para frente as sete iniciais das palavras  seguintes a cada Ó, forma-se  a frase (em latim): ero cras  “serei  amanhã”.  Ou  seja,  a  promessa do Salvador de nascer em breve para nós.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Histórias para catequese

Assim nasceram as andorinhas
Há perto de dois mil anos, numa manhã clara e aprazível, o sol espargia seus raios benfazejos sobre a região de Nazaré, na Galileia.
Algumas crianças brincavam num campo à margem do caminho que leva a Jerusalém. No meio da alegre e animada reunião destacava-se a figura atraente e luminosa de um Menino Divino: Jesus, o filho de José, o carpinteiro, e de Maria, o Salvador predito por Zacarias, o esperado por mais de quatro mil anos pelos patriarcas e profetas de Israel. Estava Ele ali também a brincar e a distrair-se com os companheiros entre risos e exclamações de inocente e límpida felicidade.
Formavam eles pequenos passarinhos com a argila do caminho, e os criativos dedinhos infantis modelavam à vontade a cauda, as asas, o bico e os olhos das avezinhas imaginadas. Pareciam voar aqueles pássaros de barro enquanto suas asinhas estendidas secavam-se ao vento quente de verão!
Ora, era dia de sábado. Um austero ancião de testa franzida e roupa surrada passou, então, pela estrada que leva a Jerusalém e, ao deparar-se com a ruidosa assembleia que despreocupadamente continuava seus “trabalhos” de modelagem, gritou com voz dura:
— Meninos, hoje não é permitido laborar com as mãos!
A estupefação estampou-se nas cândidas fisionomias dos “escultores”...
Sem aguardar resposta, o rígido seguidor da lei mosaica, cheio de azedume, levantou ameaçadoramente um rústico bastão e dispunha-se a transformar em cacos as graciosas figurinhas...
Então Jesus, o filho de Maria, ergueu-se e bateu palmas sobre as aves de barro. Oh, comovedor milagre! — elas cobraram vida e cor, levantaram leve e apressado voo e perderam-se no azul do firmamento.
* * *
Depois daquele feliz dia, todas as andorinhas — pois é delas que narramos a história —, fiéis à lembrança de sua encantadora origem, protegidas e abençoadas por Jesus, constroem seus ninhos de argila sob os telhados das casas.
São elas símbolo de bênção e prosperidade nos lugares onde habitam.
* * *
Quando Jesus exangue subiu ao alto do Calvário no trágico dia de Sexta-feira Santa, em que pavorosas trevas tomavam conta do universo, as humildes e gratas andorinhas, em bando reverente e compassivo, vieram arrancar com seus delicados bicos os espinhos que perlavam de sangue a fronte adorável e sagrada do Mestre, o arrebatador Menino do caminho de Nazaré que num sublime e divino impulso, cheio de alegria, cerca de trinta anos atrás as havia criado...
E, a partir da morte de Jesus, o Criador amado, a andorinha, peregrina alada, numa suprema homenagem de amor e ternura, traja com nobre e distinta ufania seu escuro manto de luto...

sábado, 8 de dezembro de 2012

Solene Consagração a Nossa Senhora


Festa de Nossa Senhora de Aparecida. No início da Celebração Eucarística, a imagem de Nossa Senhora entrou solenemente e foi coroada.





Alguns fiéis preparados pelos Arautos do Evangelho tiveram a alegria de fazer sua consagração a Nossa Senhora segundo o método de São Luís Grignion de Montfort, na Capela Nossa Senhora de Fátima – Parque Petrópolis, da Paróquia Nossa Senhora das Graças. Emocionados, recitaram a fórmula da Consagração a Jesus Cristo e se ajoelharam aos pés de Nossa Senhora invocando sua protecção. 










quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Valha-me, Nossa Senhora!

José Luís era um menino muito esperto. Vivia com seus avós na fazenda Andorinha, onde lhe encantava correr pelos campos, brincar com os animais e colecionar ninhos de passarinhos. Apesar de seus 9 anos já feitos, tinha compleição miúda e, por isso, todos o chamavam de Zezinho.
Na escola, estava começando a ler e escrever e aprendia rápido, pois Deus lhe dera grande inteligência. E no Catecismo não havia quem o superasse. Sempre era o primeiro entre os meninos e já tinha uma grande coleção dos santinhos que o padre Arnaldo dava aos alunos mais aplicados. Gostava, sobretudo, dos de Nossa Senhora, em suas diversas invocações: Mãe do Bom Conselho, Auxílio dos Cristãos, Mãe da Divina Graça, Nossa Senhora da Confiança.
Todas as manhãs, antes das aulas, servia de coroinha na Missa celebrada pelo padre Arnaldo. Mas como não podia ainda comungar, terminada a cerimônia, se dirigia ao altar de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e rezava com toda confiança:
— Minha Mãe, preparai-me bem para a Primeira Comunhão, dai-me a graça de sempre ser vosso filho, valei-me em todas as minhas necessidades e não permitais que eu Vos abandone.
Em seguida, recitava três Ave-Marias.
À tarde, depois de fazer as lições, saía pelos campos para brincar. Corria com os cachorros, cuidava das galinhas e cavalgava pela mata adentro, em busca de seus preciosos ninhos. Sempre voltava com algo: uma casa de joão-de-barro, um ninho de pintassilgo ou de colibri.
O capataz ficava bravo com ele, porque destruía o abrigo dessas indefesas criaturas.
Ele ria e dizia:
— Não se preocupe, senhor Joaquim, sempre tomo o cuidado de esperar que os filhotes já tenham aprendido a voar!
E corria satisfeito para o celeiro, onde guardava cuidadosamente sua coleção.
Às noites, depois do jantar, era a hora da oração em família. Sua avó Dorotéia tinha um bonito oratório de Nossa Senhora das Graças, e ali se reunia com Zezinho, o avô Carlos e os empregados da fazenda para, juntos, rezarem o Santo Rosário e a Ladainha à Santíssima Virgem, e por fim entoavam um hino em louvor à Mãe de Deus.
Antes de se dirigirem para o merecido descanso, depois de um dia cheio de afazeres, dona Dorotéia costumava dizer-lhes:
— O melhor travesseiro é uma consciência tranqüila!
Numa tarde, depois das lições e de cuidar dos animais, Zezinho pôsse a caminhar perto dos pessegueiros carregados de frutos maduros. Colheu um, provou-o e viu que estava doce como mel. Saboreando a deliciosa fruta, observava os galhos das árvores, para ver se encontrava algum ninho. Não viu nada. Levantando as vistas, seu olhar pousou no alto da torre da caixa d’água, que ficava ao lado do pomar, para irrigá-lo. Qual não foi a sua surpresa, quando avistou um pardal começando a construir seu lar, bem no topo da torre.
Ele passou um bom tempo observando como aquela pequena ave buscava gravetos, folhas secas, pedaços de cordões, tudo servia para fazer sua “casinha” bem emaranhada. Zezinho lembrou-se dos sermões do padre Arnaldo e disse para si mesmo:
— Como Deus fez tudo perfeito! Ninguém ensinou aos pardais a construir seu ninho e eles fazem isso com tanta perfeição!
Comeu outro pêssego e decidiu pegar aquele ninho, que lhe trouxera pensamentos tão bonitos. Mas ia deixar passar os dias. Esperaria até que os filhotes já soubessem voar.
Algumas semanas depois, percebeu que ele já estava vazio. Pegou a grande escada e pôs-se a subir. A torre da caixa d’água era muito alta. A escada balançava perigosamente. Ele começou a tremer. Via tudo pequenininho lá embaixo. Estava com medo. Será que devia subir mais? Faltava pouco para alcançar o ninho, um degrau mais e pronto!
Zezinho subiu o último degrau. O céu parecia mais perto. Inclinou muito o corpo, esticou o braço e conseguiu! Mas, ao voltar, um movimento brusco desequilibrou a escada. Ele estava caindo... Com o ninho entre os dedos, lembrou-se que sempre pedia a proteção da Mãe do Céu e gritou:
— Valha-me, Nossa Senhora!
Sentindo o corpo no ar, parecia-lhe que um vento agradável o levava para baixo, suavemente. Assim foi descendo, descendo até alcançar o chão, aonde chegou são e salvo! A escada caiu a seu lado, fazendo grande estrondo!
O capataz, que viera correndo ao ouvir o grito do menino, não podia crer no que via. Era um verdadeiro milagre! Precisava contar à dona Dorotéia e ao senhor Carlos. Eles não iam acreditar no que acabava de ver!
Dirigiram-se todos para a igreja e, diante do padre Arnaldo, Zezinho contou como, tendo invocado Nossa Senhora, Ela veio em seu socorro e o levou até o solo.
A família reunida agradeceu à Virgem Santíssima essa enorme prova de afeto que havia dado a todos, sobretudo ao Zezinho, o qual também A queria tanto. Alguns dias depois, o padre Arnaldo celebrou uma solene Missa de ação de graças, na qual Zezinho teve a alegria de fazer sua Primeira Comunhão.
O menino cresceu cada vez mais devoto de Nossa Senhora e decidiu consagrar-Lhe sua vida, fazendo-se sacerdote e não pregando outra coisa senão a beleza da devoção a Ela.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Arautos visitam os enfermos


Nossa vida cristã depende da prática do amor

“Manifestei a tua glória, fazendo a obra que Me destes a realizar” (Jo 17, 4) Devemos testemunhar a glória de Cristo pela prática do amor fraterno. Pelas boas obras será avaliada a vida de discípulos: 
“Vinde benditos de meu Pai […] tive fome e deste-Me de comer, tive sede e deste-Me de beber, estive nu e vestiste-Me, estive doente e na prisão e visitaste-Me” (cf. Mt 25, 34-36).

Os Arautos do Evangelho levaram conforto espiritual aos enfermos da Paróquia Nossa Senhora das Graças.







sábado, 10 de novembro de 2012

Vigiai e orai...

Muito se engana quem pensa que só os maus são espertos. A verdadeira piedade aguça a inteligência, faz desabrochar todas as qualidades do homem, e nos obtém o socorro do Céu.
Na pequena cidade bretã de Tréguier, na França, está sepultado o grande Santo Ivo, sacerdote, venerado como o “Advogado dos Pobres”. Faleceu ele em 1303 e foi canonizado em 1347. Seu túmulo tornou-se centro de peregrinações.
O ano de 1403 — em que se passa nossa história — foi de grande movimentação em Tréguier, todos comemorando com júbilo o primeiro centenário da entrada de Santo Ivo na glória celeste.
Passados os dias de festa, a população local retoma sua vida rotineira. Caía a tarde, dois cavaleiros entram na praça da Catedral e estacam diante de uma ampla casa cuja fachada ostentava uma artística insígnia com o seguinte título: “Pousada Santo Ivo das Duas Espadas”.
— A dona da Pousada está? — pergunta um deles.
— Sim, senhor, é com ela própria que falais. Chamo-me Teresa, às vossas ordens!
— Somos honrados negociantes de pedras preciosas. Queremos hospedagem por alguns dias. Meu nome é Marción e meu sócio se chama Nicanor.
— Sede bem-vindos à terra de Santo Ivo! Vou mandar acomodar vossas montarias e preparar-vos dois belos aposentos e uma boa refeição.
Enquanto atendia assim os dois forasteiros, Da. Teresa examinava-os atentamente. Embora com menos de 35 anos, tinha já uma grande experiência da vida. Com a morte repentina de seu marido, poucos anos antes, assumira corajosamente o comando da Pousada e o cuidado dos oito filhos menores. Habituada, já no primeiro contato, a fazer o “raio-X” das pessoas com as quais tratava, observara bem aqueles “honrados negociantes”, concluindo que seria prudente desconfiar de suas boas intenções.
Por sua vez, os dois recém-chegados examinaram com atenção sua interlocutora e a casa. Os arranjos, o grande crucifixo entronizado no salão, as numerosas imagens da Virgem e dos Santos — tudo ali denotava vida de piedade e devoção.
— Grande negócio à vista, hein, Marción!
— Sim, não falha! Ela é uma “beata”, portanto, deve ser uma tola. O negócio aqui vai ser fácil. Basta sermos bem espertos, cada vez mais espertos, certo?
— Claro! Para os bobos, os sermões e procissões. Para nós, os lucros... Após se instalarem, os dois desceram para o restaurante, onde lhes foi servido um bom jantar. Antes de se recolherem, pediram para falar com a dona da Hospedagem. Disse-lhe Marción:
— Queremos que nos guarde em vosso cofre esta caixa, na qual estão nossas mais valiosas pedras!
— Perfeitamente, temos um cofre forte e seguro.
— Mas, não me tome a mal se pedir uma garantia — insistiu o hóspede.
— Sim, tendes todo o direito. Dizei-me qual deve ser essa garantia.
— Que só entregueis esta caixa a qualquer um de nós na presença do outro, pois este é o único meio de evitar... digamos assim, desavença entre nós dois. É uma importante medida cautelar, para não serdes vós mesma responsabilizada por alguma... alguma má ocorrência, entendeis?
— Entendido! Bom descanso, senhores.
A dona da Pousada foi guardar no cofre a preciosa caixa, os dois hóspedes dirigiram-se para seus quartos.
No dia seguinte, de manhã, pediram a Da. Teresa para trazer-lhes a caixa, retiraram as pedras que julgaram convenientes e saíram para seus negócios. Ao cair da tarde, retornaram satisfeitos e foram juntos solicitar novamente a caixa, na qual depositaram seus valores.
Passou-se assim uma semana, seguindo sempre essa mesma rotina.
Certo dia, Nicanor desceu sozinho, comunicou que desejava pagar as despesas de hospedagem, pois iriam partir para outra cidade. Da. Teresa fez as contas e lhe passou a nota. O comerciante abriu a bolsa e começou a contar moedas de ouro e prata.
— Meu sócio já vai descer. Não podeis já ir buscar a caixa, para entregar quando ele chegar?
Ouvindo os passos do outro no corredor em cima, a hospedeira não hesitou em abrir o cofre, tirar a caixa e depositá-la sobre a mesa. Nicanor, sorridente, pôs-lhe nas mãos a quantia da despesa e pediu um recibo. Da. Teresa foi ao armário, a dois metros, para pegar tinteiro e papel... quando voltou percebeu que estava sozinha na sala.
Em poucos segundos, o “honrado negociante” tinha desaparecido com a valiosa caixa de pedras preciosas!
Logo percebeu ela a armadilha que lhe haviam preparado os dois facínoras: Marción certamente iria reclamar em juízo indenização pela metade das pedras preciosas... Ela talvez tivesse que vender todos os seus bens, ficando reduzida à indigência! Mas a Da. Teresa, mulher de vigilância e de oração, não faltava coragem nem presença de espírito. Ergueu à Protetora dos Cristãos e a Santo Ivo, padroeiro dos advogados, uma ardorosa prece, e traçou num relance seu “plano de combate”.
Entrando na sala, o outro bandido cumprimentou-a sorridente, como de costume, e manifestou surpresa por não ver lá seu sócio.
— É, eu achei estranho... ele saiu de modo inesperado, sem nada dizer, acho que não deve demorar. Enquanto aguardamos sua volta, dai-me licença de ir à cozinha tomar umas rápidas providências.
Dito isto, retirou-se, não para a cozinha, mas para a Capela da Pousada.
De joelhos diante da imagem de Santo Ivo, implorou fervorosamente sua ajuda.
Houve algum milagre? Não se sabe... O certo é que Da. Teresa sorriu e saiu confiante, sentindo uma mensagem gravada em sua alma.
Chamou o capataz da cavalariça e deu-lhe breves explicações, concluindo:
— Sigam, pois, a indicação que me deu Santo Ivo: vão a todo galope pela estrada de Saint-Brieuc, para agarrar o ladrão na Gruta do Trigal, onde estará escondido.
Retornando à sala, disse-lhe Marción, com um sorriso desdenhoso:
— Bem, senhora, já que meu sócio, pelo visto, desapareceu, peço trazer-me a caixa com as jóias, confiada aos vossos cuidados.
— Ah, senhor, isso nunca! Assumi o compromisso de trazê-la apenas quando os dois estejam presentes. Tereis de aguardar a chegada de vosso companheiro.
Por esta o farsante não esperava! Então dessa beata, dessa rezadeira de intermináveis “rogai-por-nós”, quem poderia esperar tamanha sagacidade? Na incerteza, resolveu sondar o terreno:
— Podeis, pelo menos, abrir o cofre, para provar que a caixa lá está?
— Acaso, desconfiais de vosso sócio?...
— Senhora! Não se brinca com um negociante experimentado como eu. Ou abris já o cofre, ou irei imediatamente fazer uma denúncia ao juiz.
— Esperai um pouco mais, senhor, Nicanor logo chegará... trazido pela polícia.
— Polícia?!...
— Isto mesmo! A polícia judiciária partiu a galope para pegá-lo na Gruta do Trigal, onde estaria à vossa espera, conforme havíeis combinado.
Ouvindo isto, o larápio percebeu que todo o plano estava descoberto. Inútil seria qualquer nova artimanha. Deixou-se ficar ali, passivo, aguardando os acontecimentos. Pouco tempo depois, entraram os policiais, trazendo Nicanor bem algemado. Sentindo-se já encarcerado para o resto da vida, Marción só teve força para indagar, confusamente:
— Como?... como descobristes tudo tão depressa?
— Fiz o que Jesus ensinou: vigiei, orei e agi. A verdadeira piedade aguça a inteligência e faz desabrochar todas as qualidades. Sobretudo, nos obtém o socorro do Céu. Rezei a Santo Ivo, ele me atendeu. No calabouço, não vos faltará tempo para meditar sobre vossa má vida. Tirai bom proveito para a salvação de vossa alma.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima - Arautos do Evangelho

Sempre sob a maternal e insondável solicitude da Santíssima Virgem, as Irmãs da Sociedade Regina Virginum não se cansam de abrir novas frentes de evangelização, levando a Imagem de Nossa Senhora de Fátima às famílias dos fiéis da Paróquia Nossa Senhora das Graças.
Como em todos os lugares por onde peregrina, a imagem da Virgem de Fátima percorre e abençoa os lares, derramando sobre todos a abundância de suas misericórdias.







sábado, 27 de outubro de 2012

A misericórdia triunfa sobre a justiça

 Há muito tempo, morava numa cidade da França uma jovem senhora cujo marido morrera, deixando-a com dois filhos pequenos: Guilherme e Roberto. A boa mãe não poupava esforços para lhes dar sólida educação cristã, a fim de serem mais tarde homens honestos e virtuosos como o fora seu pai.
Passavam-se os anos, e ambos cresciam fortes, saudáveis e inteligentes. Eram muito diferentes, porém, quanto ao comportamento: o mais velho, Guilherme, revelava-se disciplinado, estudioso e amante da oração; o mais novo, ao contrário, causava não poucas preocupações à mãe, por ser revoltado, insolente e dado à vadiagem. A pobre viúva esforçava-se por corrigi-lo, mas ele reagia com orgulho contra todas as suas admoestações.
Assim, quando os dois chegaram à idade de escolher cada qual seu rumo na vida, Guilherme decidiu seguir a carreira de Direito, a exemplo de seu falecido pai. Roberto deixou-se levar pelas suas más inclinações, juntou-se a maus companheiros, caiu no vício do jogo e um dia declarou sua intenção de partir: não se sentia bem no ambiente familiar, desejava viajar, conhecer o mundo! Indiferente às lágrimas maternas, abandonou o lar e o afeto dos seus. À desolada mãe só restava um recurso: redobrar de orações pela recuperação do filho desviado.
Pouco mais de dez anos depois, Guilherme foi nomeado juiz da cidade. Por sua honestidade e competência, em pouco tempo tornou-se famoso em toda a província: não havia problema que ele não resolvesse, injustiça que não punisse. Todos o respeitavam e estimavam.
* * *
Mas nem tudo era ordem e alegria naquela cidade. Uma perigosa quadrilha de salteadores assolava a região, deixando em pânico os moradores. As casas eram saqueadas, os proprietários despojados de seus objetos de valor. Se algum viajante aventurava-se à noite pelas estradas, os bandidos o assaltavam sem piedade e lhe roubavam tudo: dinheiro, jóias, cavalo, nada poupavam.
Guilherme promoveu uma caça sem tréguas aos terríveis malfeitores. De início, seus esforços revelavam-se vãos, pois os ladrões, espertos e conhecedores do terreno, várias vezes escaparam praticamente por entre os dedos da polícia.
À vista disto, o juiz decidiu percorrer os pontos mais vulneráveis das estradas, para intensificar as operações de patrulhamento. Na volta, havia já caído a noite. A pequena escolta policial cavalgava decidida e sem medo, mas com a estranha sensação de estar ameaçada por um iminente perigo.
De súbito, ouviu-se um grito agudo. Era o sinal de ataque dos bandidos, emboscados atrás das árvores. De todos os lados saltaram homens armados e atacaram os policiais e seu comandante. Guilherme, rodeado por três salteadores, defendeu-se com destreza e valentia, recebeu uma profunda ferida, ficou todo ensanguentado, mas manteve-se firme na sela, lutando e animando seus companheiros. O combate, embora árduo, foi curto. Os delinquentes fugiram, desaparecendo na escuridão.
Levado às pressas para a cidade, Guilherme recebeu socorros médicos e logo viu-se fora de perigo. Uma grave impressão, porém, o inquietava. Ele julgava ter reconhecido, à luz pálida da lua, a fisionomia do assaltante que o atacara com mais furor e conseguira feri-lo: parecia ser seu irmão, Roberto... Mas, na dúvida, não quis revelar isso a ninguém.
A polícia redobrou seus esforços e, poucos dias depois, capturou o chefe do bando, o qual foi sem tardança conduzido ao tribunal para ser julgado. Ao vê-lo, Guilherme não teve mais dúvida alguma: quem quase o tinha matado naquela noite era de fato Roberto, seu irmão! Longe de demonstrar arrependimento, este tentava apresentar-se seguro de si, ostentando modos insolentes.
Embora emocionado, o juiz não podia deixar de fazer justiça. Por seus inúmeros roubos, o salteador merecia longos anos de prisão; e pela tentativa de assassinato de um magistrado do reino, a lei era bem clara: o réu devia ser enforcado no prazo de três dias.
Na hora marcada para a execução, o condenado foi conduzido à praça principal da cidade, onde uma multidão estava à espera, desejosa de presenciar o fim do bandido que durante tanto tempo espalhara o pânico entre os pacíficos habitantes da região.
Triste espetáculo aquele! Rodeado de guardas e bem amarrado, o infeliz se arrastava em direção ao patíbulo. Sua atitude, porém, parecia mudada. A proximidade da morte o fez refletir sobre a loucura da sua vida de vício e de crimes. Uma expressão de dor e arrependimento desenhava-se em sua fisionomia, e seus lábios moviam-se silenciosamente. Estaria recitando alguma oração aprendida na infância?
* * *
O lúgubre cortejo chegou, enfim, junto à forca. Já o carrasco fazia os últimos preparativos para a execução quando uma mulher, derramando abundantes lágrimas, fendeu a linha dos soldados, lançou-se ao pescoço do criminoso e o cobriu de carícias. Nenhum guarda ousou afastá-la, pois todos perceberam tratar-se da mãe do condenado... e do juiz!
Aquele bandido era o filho por quem ela chorava e rezava havia tantos anos. Quanta dor naquele reencontro! Roberto achava-se sob o peso de uma sentença pronunciada por seu próprio irmão... Dentro de alguns instantes a desolada viúva perderia para sempre o filho. Seu coração jamais suportaria que em sua presença se consumasse a execução! Correu ao tribunal, prostrou-se aos pés do juiz e suplicou graça para o condenado. Ante a veemência dos rogos maternos, Guilherme deixou-se comover: “Minha mãe, a ti nada posso negar!”
Isto dito, dirigiu-se com ela apressadamente até o local do suplício. O trágico espetáculo ia já chegando ao fim: o bandido estava com a corda no pescoço, em um instante estaria pendurado e seu corpo sem vida seria o mudo testemunho da justiça executada.
O juiz adiantou-se, mandou desamarrá-lo e, apresentando-o à multidão, declarou: — Quando este homem compareceu diante de mim para ser julgado, não o olhei como meu irmão, mas como criminoso. Sobre ele pesavam duas sentenças distintas: longos anos de prisão, por roubos e violências; e pena de morte, pela tentativa de assassinato. Quanto à primeira, eu não podia transigir. Com relação à segunda, sim, pois uma excepcional circunstância fazia de mim, ao mesmo tempo, o ofendido e o juiz. Contudo, não usei de condescendência, por entender que o bem comum e o exemplo da justiça deviam prevalecer sobre o amor fraterno. Mas um coração materno fez-me uma pungente súplica à qual não posso ser insensível. Entre a justiça implacável e a gravidade do delito entrou o timbre suave da misericórdia. Como poderia eu deixar de atender um pedido vindo de tal advogada? Este homem — meu irmão — terá de pagar no cárcere o mal que fez à sociedade, mas a intercessão materna salvou-lhe a vida.
* * *
Na verdade, o dramático episódio narrado nestas páginas é apenas uma pálida imagem da situação de cada um de nós. Por nossos pecados, quantas vezes nos tornamos merecedores das punições de Deus! Temos, porém, no Céu uma intercessora incomparavelmente mais poderosa e cheia de misericórdia que a pobre viúva desta história. Por meio de seus rogos, Nossa Senhora pode alcançar-nos de seu Divino Filho o que Ele, por sua justiça, não nos concederia. Com filial alegria, tenhamos, portanto, uma confiança sem limites em sua intercessão, pois Ela a justo título é chamada a “Onipotência Suplicante”.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O GRANDE PREGADOR

Frei Anselmo era inteligente e preparava seus sermões com esmero. Por onde passava, ia ficando um rastro de conversões e reafervoramento. Um dia, entretanto, suas palavras deixaram de ter efeito nas almas. O que teria acontecido?
 Anselmo e Mário, dois grandes amigos, não podiam ser mais diferentes um do outro, no que diz respeito aos dotes da natureza. O primeiro era talentoso, elegante, rico e de boa família. O segundo, pobre e apagado. Entretanto, por cima de todas essas diferenças, algo os unia estreitamente: ambos eram grandes de alma.
Naquela manhã de domingo, Anselmo comunicava a seu amigo que estava de partida para ingressar como noviço no Convento de São Domingos.
— Quero ser pregador, como bom filho de São Domingos, para converter muitas almas a Cristo e divulgar a devoção do Santo Rosário.
Embora triste, por ver romper-se um convívio de muitos anos, Mário felicitou seu amigo e o incentivou a seguir avante naquela sublime vocação.
— Ficaremos sempre unidos pela oração. Rezarei muito para que sejas um grande pregador santo — respondeu, dando ênfase ao adjetivo santo.
Poucos meses depois, Mário conseguiu um meio de alojar-se também no Convento de São Domingos, onde prestava pequenos serviços à comunidade. E... de vez em quando conversava um pouco com seu estimado amigo, ao qual repetia sempre:
— Rezo sem parar para que sejas um grande e santo pregador!
Chegou, enfim, o esperado dia da ordenação sacerdotal de Anselmo. Seu primeiro sermão arrebatou e comoveu os fiéis. Desviando de vez em quando o olhar dos assistentes, o pregador via Mário num canto da igreja, desfiando discretamente as contas de seu Rosário. “É por mim que ele está rezando!” — pensava, agradecido.
Ao cabo de poucos anos, Frei Anselmo tornou-se um pregador famoso. De todas as partes vinham-lhe solicitações de párocos e bispos.
Além de inteligente e culto, ele preparava com esmero suas pregações. E os bons efeitos eram atestados pelas numerosas conversões e surtos de reafervoramento espiritual em todos os lugares onde se faziam ouvir suas ardorosas palavras.
Mário continuava no convento, onde passou a ser chamado de “Irmão Mário” pelos monges. Homem jeitoso, ele conseguiu um meio de acompanhar Frei Anselmo em todas as viagens, para “cuidar de suas coisas”. E — detalhe curioso! — não perdia um sermão sequer. Lá estava sempre ele, com seu grande Rosário nas mãos, rezando, rezando...
Mas, como fazia Frei Anselmo para arrebatar e converter as multidões?
Numa Sexta-Feira Santa, o Bispo o encarregou de fazer a homilia sobre a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Na Catedral apinhada de fiéis, todos ouviam atentamente. Chegando ao ponto em que o Divino Redentor inclinou a cabeça e expirou, ele fez uma pequena pausa, depois disse estas simples palavras:
— E Deus morreu!...
O respeitoso silêncio foi quebrado por soluços, em muitas faces corriam as lágrimas. A divina tragédia do Filho de Deus morto na Cruz tocara a fundo os corações.
Em outra oportunidade, era noite de Natal. Depois de compor cuidadosamente, na imaginação de seus ouvintes, a cena viva da Gruta de Belém, o grande pregador chamou a atenção para o transcendental acontecimento que ia se dar naquele momento e acrescentou:
— Então, o Filho de Deus se fez Menino e pousou sorridente nos braços de Maria!
Houve na igreja uma explosão de alegria. A emoção tomou conta de homens e mulheres, crianças, adultos e anciãos. Daqueles corações subia para o Deus Menino uma onda de ternura, de afeto e de adoração.
Mais alguns anos decorreram, ao longo dos quais cenas como essas eram habituais na movimentada vida de Frei Anselmo. Por onde ele passava, ia ficando um rastro de conversões, de mudança radical de vida, de fervor renovado.
Até que um dia... Sim, em certo dia de grande solenidade, o famoso pregador subiu ao púlpito e pronunciou as primeiras palavras do sermão enquanto olhava maquinalmente para o local onde costumava colocar-se o bom Irmão Mário. O lugar estava vazio. Onde estaria ele? — perguntou-se, preocupado.
Mas, enfim, Frei Anselmo tinha de preocupar-se com a homilia. Seguiu, pois, em frente. Como sempre, as ideias se formavam com toda clareza em sua mente e suas palavras límpidas e claras ressoavam pela vastidão do imenso templo. Mas — coisa estranha! — nas almas elas não ecoavam. Esforçou-se mais o pregador, pondo em jogo os imensos recursos de sua arte oratória para mover aqueles corações a uma atitude interior de fé e de piedade... Em vão!
O que teria acontecido?
Terminada a Missa, Frei Anselmo retornou ao Convento e perguntou ao porteiro:
— Onde está o Irmão Mário?
— Faleceu há cerca de meia hora. Seu corpo está na cela, ainda quente.
Após rezar junto ao corpo sem vida de seu velho e fiel amigo, o pregador quis saber o motivo dessa morte, tão inesperada para ele. O Padre Reitor explicou-lhe:
— Nos últimos meses o Irmão Mário dava indícios de estar gravemente enfermo, mas se recusava a descansar, alegando sempre que precisava “cuidar das coisas do Frei Anselmo”.
— Mas, o que mais fazia ele?
— Muitas orações! Rezava incansavelmente. Quando alguém lhe perguntava para quem eram tantas orações, ele respondia apenas: “Nossa Senhora sabe”.
— Ele era um santo — comentou Frei Anselmo, comovido.
— E muito...
O grande pregador continuou sua vida de intenso apostolado, mas sentia que tinha havido uma grande e inexplicável mudança. Preparava com o máximo de esmero seus sermões. As palavras fluíam-lhe dos lábios com abundância e clareza. Os fiéis o escutavam com agrado. Porém, não davam demonstração alguma de contrição, nem de fervor.
Algo havia desaparecido. O que seria?
Na Missa solene da festa de São Domingos, Frei Anselmo falava... falava... para ouvidos atentos mas corações fechados. Em certo momento, calou-se, como que tocado por uma visão, e começou a empalidecer. Alguns assistentes o ampararam e levaram para a sacristia. Ali mesmo, ouviu de um médico este diagnóstico:
— Estafa grave, Padre. O senhor precisa mudar de ares, repousar.
Esboçando leve sorriso, Frei Anselmo respondeu:
— Não... Não, nada disso! É ele... com suas intermináveis orações! A causa de todas aquelas conversões era ele, meu pobre amigo! Levem-me ao túmulo do Irmão Mário.
Lá chegando, o famoso pregador chorou longamente, humilhado, sim, mas convertido. Afinal, iluminado pela graça, havia compreendido que todo o êxito de seus sermões se devia, não à sua brilhante oratória, mas às fervorosas orações do humilde Irmão Mário.
Como uma benfazeja torrente de luz, vieram-lhe à mente as recordações de seus estudos sobre o indispensável papel da graça para mover as almas à conversão. Sim, os discursos mais lógicos, mais brilhantes são incapazes de suscitar qualquer bom movimento de alma. Quem converte é Deus, pela graça. E esta se obtém pelas orações, através da Virgem Santíssima.
Agora Frei Anselmo via com clareza a importância do Irmão Mário, o simples, o apagado... o poderoso Irmão Mário! Permaneceu durante várias horas diante do seu túmulo, rezando serenamente. Aproximando-se dele, o Padre Reitor lhe perguntou:
— Então, pedindo ao bom Irmão Mário o restabelecimento da saúde?
— Não, Padre Reitor, pedindo a virtude da humildade! — respondeu o grande pregador, levantando o rosto marcado pelos sulcos das lágrimas.