sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Comentários ao Salmo 31

Porque me calei, os meus ossos envelheceram, enquanto eu clamava todo o dia.
Trata-se aqui daquele que pecou e calou a sua falta. Quer dizer, não contou a Deus, não confessou o que fez. Em razão dessa indiferença, desse afastamento em relação a Deus, ele foi se ressecando, debilitando, definhando.
Nesse versículo há também um sentido peculiar que merece atenção: o pecador “clamava todo o dia”, mas entretanto se calou. O que podemos interpretar como tendo ele contado seu pecado a algum amigo, parente ou conhecido, não porém Àquele a quem importava revelar, isto é, a Deus Nosso Senhor.
Naquela época, a Igreja Católica não estava fundada, pois os Salmos datam de séculos anteriores a Jesus Cristo. Entretanto, uma vez instituída a Santa Igreja, o personagem por excelência com quem se deve falar é o confessor. Pecou, declare ao padre — representante de Deus e da Igreja — a sua falta e peça perdão.
Mas, se a pessoa não recorre ao tribunal da penitência, não declara o mal que praticou, mantendo-se afastada dos Sacramentos, seus ossos secam dia e noite, e sua alma vai decaindo. Pelo contrário, como adiante se verá, quando ela fala a Deus, ou seja, ao confessor, a sua alma refloresce.
Porque a tua mão tornou-se pesada sobre mim de dia e de noite...
Deus castigou esse homem, porque não tinha confessado. Então, noite e dia, para conduzi-lo à penitência, o punia.
... eu revolvia-me na minha dor, enquanto mais se cravava o espinho.
Ele se remexia no seu sofrimento, e o espinho, que é a consciência do pecado cometido e não declarado a Deus, aprofundava a chaga causada pela falta. É o resultado da impenitência do indivíduo que não quer se humilhar diante de Nosso Senhor.
Inclinando-se diante de Deus
Eu Te manifestei o meu pecado, e não ocultei a minha injustiça. E disse: Confessarei ao Senhor, contra mim mesmo, a minha injustiça...
Afinal, ele falou, confessou a Deus seu pecado. É a declaração dele:
“Comparecerei diante do Senhor e falarei contra mim mesmo. Reconheço o quanto minha falta é censurável porque ofende os vossos Mandamentos. E a malícia, ó Deus, dos atos que pratiquei, também está diante de mim. E dói-me, envergonha- me ter cometido esse pecado. Aos vossos pés, meu Senhor, falo mal de mim, me inclino e peço perdão.”
Este, verdadeiramente, é o ato regenerador. Enquanto o faltoso não toma essa atitude de penitência e humildade, reconhecendo-se indigno de estar na presença de Deus e de que sobre ele pouse o olhar infinitamente santo do Altíssimo, do qual tem vontade de fugir — ele fica posto de lado, revolvendo-se na sua dor.
Porém, se proceder como deve, e dizer: “Senhor, eu pequei. Essa ação que cometi é contrária à vossa Lei santíssima, lindíssima, boníssima, superior a todo o louvor. Foi contra ela que me revoltei. Sou, portanto, alguém que nada vale. Mas, envergonho- me e suplico que me perdoeis” — ele terá feito a confissão.
... e Tu perdoaste a malícia do meu pecado.
Todo pecado tem uma maldade intrínseca, e por isso o Salmista declara a Deus: “Meus pecados têm malícias, e quando os confessei a Vós, percebi a maldade de cada um deles.”
Por isso orará a Ti todo [homem] santo, no tempo oportuno.
O homem que assim reza, começa a se tornar santo. É como o dia que principia a nascer e o sol pousa sobre o pecador. Ele é chamado pela primeira vez de santo, porque confessou sua culpa.
Cumpre notar que a palavra “santo” não significa possuir o pecador a santidade de quem praticou as virtudes teologais e cardeais em grau heróico, mas que ele se encontra em estado de graça, é amigo de Deus.
Então o homem que confessou sua falta é justo, e no tempo oportuno rezará a Deus.

Revista Dr Plinio 78

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