Numa pequena ilha do litoral Pacífico, em pleno século XX, deu-se um
acontecimento cuja grandeza lembra certos feitos extraordinários relatados nas
Sagradas Escrituras!
Oficial - Circular -
Urgente. Bogotá, 6 de fevereiro de 1906. Governadores, por ordem do
Excelentíssimo Senhor Presidente transcrevo seguintes notícias: Tumaco, 31 de
janeiro. Hoje às 10h da manhã terrível terremoto. Algumas casas desmanteladas;
barracas afundadas; vários armazéns destruídos. [...] Pânico geral, pois o mar
ameaça terrivelmente".
Com este dramático
telegrama enviado da capital para todo o país, Colômbia tomava conhecimento do
acontecido em Tumaco, ilha do litoral sudoeste, parcamente habitada naquele
tempo: um movimento sísmico de grandes proporções prenunciava a chegada de um
devastador tsunami! E não era a primeira vez que uma onda gigante ameaçava
submergi-la...
Uma ilha castigada pelo mar
Dois séculos antes, em
1738, Dom Pedro Vicente Maldonado, governador da antiga província de
Esmeraldas, à qual pertencia a ilha, descrevia a realidade com a qual se
deparara ao visitar a cidade: "Tumaco estava afastada seis léguas" -
medida que equivale a aproximadamente 5,5 km - "da costa [...]. Contava
com três quartos de légua de circunferência, tinha o solo arenoso, com árvores
frutíferas, e o mar, há pouco, desenterrara os defuntos sepultados na igreja.
Possuía 300 habitantes...".
Quantas vezes as águas
terão castigado este território insular? É curioso notar que em 1906 a ilha
contava com 2,5 mil habitantes, e doze anos mais tarde, mesmo tendo passado por
várias catástrofes, a população já excedia o número de 22 mil... Por acaso sua
gente era atraída pelo risco?
Um pitoresco relato da
época, elaborado por um escritor natural da região, parece responder a esta
pergunta, quando descreve a relação que havia entre o mar e aquelas ilhas:
"Nascidas, embelezadas e já habitadas as criaturinhas, este Saturno 3
desapiedado começa a pretender engoli-las. Muda o curso de suas correntes para
pegá-las desprevenidas; levanta avalanches inusitadas para atacá-las por
detrás; agita-se no seu leito de conchas e corais este monstro irrequieto, para
arrancá-las de cima de si, como se lhe fizessem cócegas, tal qual as moscas nas
costas de um cavalo. Então os homens incautos, que edificaram sobre areia,
levantam seus gritos ao Céu e fazem memoriais ao governo".
Em geral, ocorre um
tsunami quando um terremoto submarino registra grande magnitude na escala
Richter. O que acometeu Tumaco em 1906, de grau 8.8 Mw, foi "considerado
um dos mais fortes já registrados na história sísmica do mundo. [...] Sentiu-se
em toda a zona Pacífica e Andina da Colômbia e Equador".
Mal sabiam os fundadores
da cidadezinha que a 100 km da praia, nas profundezas oceânicas, encontrava-se
a principal falha sísmica do território colombiano... Se o soubessem quiçá
tivessem pensado duas vezes antes de estabelecerem ali suas residências. Talvez
Deus o tenha permitido para manifestar, de modo admirável, o quanto sua
proteção se prodigaliza sobre os que n'Ele confiam.
Região agraciada por Deus
No primeiro mapa da
província, elaborado em 1749, aparece Tumaco já caracterizada por um arraigado
fervor católico: um conjunto de 15 casas em torno de uma igrejinha.
A cerca de 200 km de
Tumaco, no departamento do Nariño, encontra-se Ipiales, cidade favorecida pela
presença milagrosa de Nossa Senhora de Las Lajas. Sobre a gruta, em cujas
paredes a misteriosa imagem foi encontrada gravada na pedra, em 1754,
levantou-se um santuário, no qual milhares de fiéis recebem incontáveis favores
sobrenaturais, até os nossos dias.
Em 1888, Nariño recebeu
um grupo de missionários agostinianos recoletos, provindos da Espanha. À frente
deles estava o padre Ezequiel Moreno Díaz que, pouco tempo depois de sua
chegada, foi nomeado Bispo da Diocese de Pasto, à qual estava ligada Tumaco. O
incansável zelo pelas almas deste missiónario agostiniano elevou-o à honra dos
altares: em 1975 ele seria beatificado por Paulo VI e, em 1992, o Papa João
Paulo II o inscreveria no catálogo dos Santos.
No entanto, uma das
maiores provas da predileção divina por esta região se relaciona precisamente
com o célebre acontecimento de Tumaco.
Misteriosa preservação das águas do maremoto
O seguinte relato,
publicado pelos expertos do serviço geológico colombiano acerca da catástrofe
sísmica de 1906, deixa-nos com um ponto de interrogação acerca da chegada do
tsunami à cidade.
Mostram eles que depois
de uma primeira onda ter-se dispersado ao romper com violência contra duas
ilhotas, "chegou uma segunda onda, a qual igualmente passou sem causar
danos. Entretanto, não tardaram a notar que uma das duas ilhas que protegiam a
cidade tinha sido arrasada pelo mar. Várias casas localizadas na costa foram
derrubadas pela onda, outras foram avariadas fortemente, mas não houve nenhuma
vítima".
Porém, na costa do
continente a situação foi muito diferente. "A uma distância de 80 a 100 km
havia muitos povoados e plantações que foram destruídos, sem exceção, como
também aqueles situados ao longo dos vários rios, a maior parte, provavelmente,
por causa da grande onda que se seguiu ao terremoto. A perda em vidas humanas
estima-se num total de 500 a 1000. Sem embargo, é provável que a cifra exata
jamais seja conhecida".
Como explicar que
localidades vizinhas e até outras muito distantes foram arrasadas pelas águas
do maremoto, e de Tumaco apenas se diz que o movimento sísmico "deixou
destruídas e danificadas algumas casas"?
Frei Bernardino García
de la Concepción, também agostiniano recoleto a cargo da província do Panamá,
ao noroeste colombiano - muito distante do epicentro -, relata que sua cidade
"estava na maior baixa-mar e, de repente - eu o vi -, veio a preamar e
ultrapassou o porto, entrando no mercado e arrastando toda espécie de caixas;
as embarcações menores foram lançadas a grande distância".
Vê-se com toda clareza
que Tumaco foi poupada da inundação que se generalizou ao seu redor. A que se
deveu tão misteriosa preservação?
Iminência de um trágico cataclismo
Alguns anos antes de
tais acontecimentos, dois agostinianos recoletos foram designados pelo santo
Bispo de Pasto, Dom Ezequiel Moreno y Díaz, para cuidarem das almas naquelas
paragens. Eram eles frei Gerardo Larrondo de San José, nomeado pároco de Tumaco,
e frei Julián Moreno de San Nicolás de Tolentino.
Até 31 de janeiro de
1906 tinham exercido seu ministério sem grandes dificuldades, no meio de um
povo de acentuada apetência religiosa. Não obstante, na manhã deste dia, às
10:36h, a terra tremeu de forma terrível, derrubando todas as imagens que eram
veneradas na igrejinha paroquial. Tomados pelo pânico, os fiéis correram ao
encontro dos religiosos, rogando-lhes que organizassem uma procissão para
implorar a Deus proteção nesta emergência.
Os sacerdotes procuraram
acalmar a multidão, incutindo-lhe confiança. Mas quando lhes chegou a notícia
de que o mar já havia recuado 1 km da praia, perceberam estar na iminência de
um trágico cataclismo.
A imensa vaga se deteve
O padre Larrondo
apressou-se em ir à igreja e, aproximando-se do sacrário, tomou uma Hóstia
grande consagrada e um cibório para protegê-la. Dirigiu-se rapidamente para
junto do povo e, ostentando a Hóstia, exclamou: "Vamos, meus filhos! Vamos
todos em direção à praia e que Deus Se apiede de nós!".10 A multidão,
antes assaltada pelo pânico, viu-se tomada por uma coragem inexplicável e, sem
hesitar, rumou em direção ao perigo, impelida pela presença de Jesus
Sacramentado e pela fé de seu pastor.
Logo o padre Larrondo já
se encontrava pisando o terreno antes banhado pelas águas. Na praia, os
paroquianos não cessavam de rezar, enquanto divisavam, ao longe, um assustador
paredão de água avançando em alta velocidade. Atônitos, puderam contemplar como
o sacerdote, aguardando impávido que a onda se aproximasse, erguia ao alto a
Sagrada Espécie e com ela traçava um grande sinal da Cruz...
Momento inesquecível! Se
no Mar Vermelho outrora as águas se abriram, aqui "a onda avança mais um
pouco e, antes que o padre Larrondo e o padre Julián percebessem o que
acontecia, a população, comovida e absorta, pôs-se a gritar: ‘Milagre!
Milagre!'. A imensa vaga que ameaçava destruir o povoado de Tumaco deteve-se
repentinamente, como bloqueada por uma força invisível maior que a da natureza,
enquanto o mar retomava o seu estado de normalidade".
Aos soluços de terror
sucederam lágrimas de alegria, e o padre Larrondo ordenou que se trouxesse às
pressas o ostensório, para nele entronizar a Sagrada Hóstia, duas vezes
miraculosa. Percorreu então, com toda pompa, as ruas e arredores da cidade
salva do extermínio. A partir desta data, o povo passou a se reunir na igreja
paroquial todos os anos, para agradecer o estupendo milagre realizado pela
presença do Santíssimo Sacramento, comparável em grandeza - ousamos dizer... -
àqueles que se encontram relatados nas Sagradas Escrituras!
Revista Arautos do Evangelho, Junho
- 2015
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