A indescritível diversidade
existente entre as orquídeas aponta para outra maior: a dos santos. Há no
Jardim Celestial uma variedade superior à das flores terrenas.
Elegantemente suspensas no
tronco de frondosas árvores, exalando perfume, beleza e suavidade, desabrocham,
sobretudo, nas selvas tropicais umas das mais belas flores que o homem possa
contemplar: as orquídeas.
Embora a maioria delas nasça
nas florestas quentes, seu mais propício hábitat natural, outras brotam em
prados secos ou úmidos, em relvados, mangais, matas temperadas, dunas, rochas e
até no subsolo. Pois esta família botânica de surpreendente variedade compõe-se
de dezenas de milhares de espécies oriundas de todas as latitudes do planeta: do
círculo polar ártico ao mais tórrido clima equatorial.
Muitas destacam-se por suas
exóticas formas e combinações de cores; outras apresentam um aspecto mais
sóbrio, sem serem, entretanto, menos belas. Também existem aquelas de aparência
jocosa, como a Orchis símia, uma espécie europeia que evoca a forma de macaco.
Algumas têm um colorido “selvagem” que faz lembrar a pele de um tigre ou um
leopardo. Já as do gênero Oncidium são conhecidas como “chuva de ouro”, devido
ao seu pequeno tamanho, vistosa cor amarelo vivo e exuberante inflorescência.
Contudo, a maioria das
orquídeas se caracteriza por uma beleza suave e harmônica. Assim são as do
gênero Barkeria, originárias do México, de delicados tons rosados ou lilás, e
as Catleias, verdadeiras rainhas desta família botânica, cuja deslumbrante formosura
os cultivadores procuram incessantemente requintar. No mundo das orquidáceas,
como no das flores em geral, o charme se encontra na variedade de formas, cores
e perfumes. Se todas elas fossem iguais, perderiam muito de seu esplendor.
* * *
A indescritível diversidade
existente entre as flores aponta para outra ainda maior: a das almas. Embora
todos os homens gozem de igual dignidade — enquanto seres criados à imagem de
Deus, dotados de alma racional e redimidos pelo Sangue preciosíssimo de Cristo
—, cada um difere dos demais, por refletir um aspecto original e único das
infinitas perfeições do Criador.
E assim como acontece com as
orquídeas, há santos de todos os feitios, temperamentos, carismas. Junto a São
Filipe Neri, simpático e até jocoso, deparamo-nos com o ascético Santo Antão;
veneramos tanto São Luís, Rei de França, ou Santa Isabel, Rainha de Portugal,
quanto o Poverello de Assis ou Santa Zita, empregada doméstica.
Nada tão desigual e ao mesmo
tempo tão semelhante quanto dois santos. Nada mais harmônico que o grande
Jardim Celestial onde brilham as feéricas cores das boas obras, e do qual emana
o perfume inebriante das virtudes dos bem-aventurados. Há ali uma variedade
superior à da família das orquídeas, pois o universo das almas é mais rico em
diversidades e belezas do que qualquer outro conjunto da terra.
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