quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Valha-me, Nossa Senhora!

José Luís era um menino muito esperto. Vivia com seus avós na fazenda Andorinha, onde lhe encantava correr pelos campos, brincar com os animais e colecionar ninhos de passarinhos. Apesar de seus 9 anos já feitos, tinha compleição miúda e, por isso, todos o chamavam de Zezinho.
Na escola, estava começando a ler e escrever e aprendia rápido, pois Deus lhe dera grande inteligência. E no Catecismo não havia quem o superasse. Sempre era o primeiro entre os meninos e já tinha uma grande coleção dos santinhos que o padre Arnaldo dava aos alunos mais aplicados. Gostava, sobretudo, dos de Nossa Senhora, em suas diversas invocações: Mãe do Bom Conselho, Auxílio dos Cristãos, Mãe da Divina Graça, Nossa Senhora da Confiança.
Todas as manhãs, antes das aulas, servia de coroinha na Missa celebrada pelo padre Arnaldo. Mas como não podia ainda comungar, terminada a cerimônia, se dirigia ao altar de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e rezava com toda confiança:
— Minha Mãe, preparai-me bem para a Primeira Comunhão, dai-me a graça de sempre ser vosso filho, valei-me em todas as minhas necessidades e não permitais que eu Vos abandone.
Em seguida, recitava três Ave-Marias.
À tarde, depois de fazer as lições, saía pelos campos para brincar. Corria com os cachorros, cuidava das galinhas e cavalgava pela mata adentro, em busca de seus preciosos ninhos. Sempre voltava com algo: uma casa de joão-de-barro, um ninho de pintassilgo ou de colibri.
O capataz ficava bravo com ele, porque destruía o abrigo dessas indefesas criaturas.
Ele ria e dizia:
— Não se preocupe, senhor Joaquim, sempre tomo o cuidado de esperar que os filhotes já tenham aprendido a voar!
E corria satisfeito para o celeiro, onde guardava cuidadosamente sua coleção.
Às noites, depois do jantar, era a hora da oração em família. Sua avó Dorotéia tinha um bonito oratório de Nossa Senhora das Graças, e ali se reunia com Zezinho, o avô Carlos e os empregados da fazenda para, juntos, rezarem o Santo Rosário e a Ladainha à Santíssima Virgem, e por fim entoavam um hino em louvor à Mãe de Deus.
Antes de se dirigirem para o merecido descanso, depois de um dia cheio de afazeres, dona Dorotéia costumava dizer-lhes:
— O melhor travesseiro é uma consciência tranqüila!
Numa tarde, depois das lições e de cuidar dos animais, Zezinho pôsse a caminhar perto dos pessegueiros carregados de frutos maduros. Colheu um, provou-o e viu que estava doce como mel. Saboreando a deliciosa fruta, observava os galhos das árvores, para ver se encontrava algum ninho. Não viu nada. Levantando as vistas, seu olhar pousou no alto da torre da caixa d’água, que ficava ao lado do pomar, para irrigá-lo. Qual não foi a sua surpresa, quando avistou um pardal começando a construir seu lar, bem no topo da torre.
Ele passou um bom tempo observando como aquela pequena ave buscava gravetos, folhas secas, pedaços de cordões, tudo servia para fazer sua “casinha” bem emaranhada. Zezinho lembrou-se dos sermões do padre Arnaldo e disse para si mesmo:
— Como Deus fez tudo perfeito! Ninguém ensinou aos pardais a construir seu ninho e eles fazem isso com tanta perfeição!
Comeu outro pêssego e decidiu pegar aquele ninho, que lhe trouxera pensamentos tão bonitos. Mas ia deixar passar os dias. Esperaria até que os filhotes já soubessem voar.
Algumas semanas depois, percebeu que ele já estava vazio. Pegou a grande escada e pôs-se a subir. A torre da caixa d’água era muito alta. A escada balançava perigosamente. Ele começou a tremer. Via tudo pequenininho lá embaixo. Estava com medo. Será que devia subir mais? Faltava pouco para alcançar o ninho, um degrau mais e pronto!
Zezinho subiu o último degrau. O céu parecia mais perto. Inclinou muito o corpo, esticou o braço e conseguiu! Mas, ao voltar, um movimento brusco desequilibrou a escada. Ele estava caindo... Com o ninho entre os dedos, lembrou-se que sempre pedia a proteção da Mãe do Céu e gritou:
— Valha-me, Nossa Senhora!
Sentindo o corpo no ar, parecia-lhe que um vento agradável o levava para baixo, suavemente. Assim foi descendo, descendo até alcançar o chão, aonde chegou são e salvo! A escada caiu a seu lado, fazendo grande estrondo!
O capataz, que viera correndo ao ouvir o grito do menino, não podia crer no que via. Era um verdadeiro milagre! Precisava contar à dona Dorotéia e ao senhor Carlos. Eles não iam acreditar no que acabava de ver!
Dirigiram-se todos para a igreja e, diante do padre Arnaldo, Zezinho contou como, tendo invocado Nossa Senhora, Ela veio em seu socorro e o levou até o solo.
A família reunida agradeceu à Virgem Santíssima essa enorme prova de afeto que havia dado a todos, sobretudo ao Zezinho, o qual também A queria tanto. Alguns dias depois, o padre Arnaldo celebrou uma solene Missa de ação de graças, na qual Zezinho teve a alegria de fazer sua Primeira Comunhão.
O menino cresceu cada vez mais devoto de Nossa Senhora e decidiu consagrar-Lhe sua vida, fazendo-se sacerdote e não pregando outra coisa senão a beleza da devoção a Ela.

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