segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O homem que sabia o dia de sua morte

O jovem Conde Rodolfo, homem saudável e forte, de formosa aparência, destro no manejo das armas, exímio cavaleiro e hábil caçador, imaginava que jamais morreria ou que, pelo menos, isto só lhe aconteceria depois de muitos e muitos anos.
Numa fria tarde de outubro de 1321, embrenhou-se ele na densa floresta, perseguindo a presa que tentava escapar-lhe. Quando já começava a escurecer, avistou entre as árvores algo que lhe parecia uma parede. Cansado de cavalgar, desmontou, aproximou-se e viu que era uma antiga capela abandonada. Entrou. Tudo estava em ruínas: vitrais quebrados, bancos virados, poeira acumulada, morcegos, etc.
De qualquer forma, pensou, há paredes e teto, é melhor do que nada. Juntando alguns bancos, improvisou um leito e, exausto como estava, logo adormeceu.
Noite alta, acordou ouvindo um som de sinos. Extremamente surpreso, esfregava os olhos e não conseguia acreditar no que via: a pequena capela estava iluminada e repleta de fiéis. No altar, um sacerdote celebrava a Missa. Perto do presbitério, estava um caixão. Era, pois, uma Missa de corpo presente, concluiu ele.
— Desculpe-me, senhora, mas na intenção de quem está sendo celebrada esta Missa? — perguntou. —
Então Vossa Senhoria não sabe quem morreu? É um nobre cavaleiro da região de Zurique, que se perdeu nesta floresta durante uma caçada e foi encontrado morto hoje... dia 26 de outubro de 1371. O Conde Rodolfo estremeceu todo. Com um estranho pressentimento, quis saber quem era esse cavaleiro. Aproximou-se do caixão, levantou o véu que cobria o rosto do defunto e... sentiu um terrível calafrio. O morto era ele! Já estava envelhecido, é certo, mas não restava dúvida alguma de que era mesmo ele que estava naquele caixão.
Dando um grito de susto... acordou. Percebeu então que aquele terrível sonho era um aviso do Céu: morreria exatamente dali a 50 anos.
Saiu da igreja e retornou ao esplêndido castelo de sua família, onde se realizava uma magnífica festa. Em meio à alegria e aos divertimentos, pensou: “50 anos é muito tempo. Quer saber de uma coisa? Vou fazer uma divisão inteligente: nos primeiros 25 anos, gozarei a vida e nos 25 restantes me prepararei seriamente para a morte”.
Passou, assim, 25 anos de diversões, caçadas, festas, alegria contínua. Mas... escoaram-se muito rapidamente! Então, o Conde decidiu: “Ora, ora, 25 anos é tempo demais de preparação para a morte. Assim, os próximos 15 anos serão um prolongamento dos 25 que já se foram. Quando faltarem só 10, aí sim, me prepararei seriamente”.
E assim sucedeu... Foram mais 15 anos de prazeres, que transcorreram mais rapidamente que os 25 anteriores. A cada término de prazo, o Conde fazia nova “divisão inteligente” do tempo restante, chegando, desta forma, ao derradeiro mês de sua vida.
Um mês apenas!... Era, pois, preciso despedir-se dos familiares e amigos. Mandou carta a todos os nobres vizinhos, convidando-os para uma grande caçada. Em 25 dias, estavam todos reunidos no seu castelo. Foram três dias de intensa comemoração.
Restavam-lhe agora apenas dois dias!
“Não posso deixar sair meus convidados sem um banquete de despedida” — pensou o Conde. E marcou um monumental almoço para o dia 25 de outubro, seu último dia de vida!
Após o banquete, sentiu necessidade de descansar um pouco, para poder então fazer uma boa confissão. Já deitado, sentiu as primeiras dores da morte iminente, chamou um criado e, com voz cavernosa, mandou trazer depressa um padre.
O fiel servo correu ao vilarejo próximo, à procura do Pároco. Enquanto isso, o Conde Rodolfo — que desperdiçara 50 anos de prazo para preparar-se — começou a ver vultos movimentando-se em torno de sua cama, como que à espera do momento de levá-lo para o inferno. Ofegante, observava a ampulheta do tempo prestes a esgotar-se. Faltando apenas cinco minutos para meia-noite, ouviu o ruído da carruagem que se aproximava, com o padre.
Tarde demais!... Antes de entrar o sacerdote, soou o primeiro badalar dos sinos, anunciando um novo dia!
Desesperado, o Conde soltou um horrível brado e... acordou verdadeiramente. Com grande alívio, percebeu que estava diante do crucifixo enferrujado da capela em ruínas no meio da floresta, onde entrara para repousar poucas horas antes.
Tudo não passara de um sonho.
De um mero sonho, não! Pois o jovem Conde Rodolfo tomou a sério o misericordioso aviso. Daí em diante, seguiu decididamente o caminho da virtude e da devoção a Nossa Senhora. Pelo exame de consciência diário e pela confissão frequente, manteve-se sempre preparado para o último e mais importante dia de sua vida: o dia de seu encontro com Deus.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O rei e o menino

Numa manhã de primavera, o rei resolveu fazer um passeio pelas ruas da capital. Pululavam-lhe na memória as tristes recordações do passado, no qual a morte visitara o palácio real. Primeiro foi a rainha, e pouco tempo depois, o príncipe, seu único herdeiro.
Enquanto contemplava as prósperas avenidas, repletas da população respeitosa e reverente à sua passagem, pensava que o fruto de sua honesta e sábia administração estava destinado a perecer após sua morte. Não encontrava em nenhum dos súditos e parentes as qualidades de espírito e a religiosidade indispensáveis para a salvaguarda de um reino cristão.
As densas nuvens que lhe turvavam a alma suavizaram-se um pouco à vista da catedral.
— Parai aqui, disse ao cocheiro, que quero rezar. Adentrando o sagrado recinto, o rei dirigiu-se à imagem de São José. Ali, brotou-lhe do fundo da alma uma prece:
— Ó bondoso pai de Jesus, a cujos pés vieram rezar, no decorrer dos tempos, também os meus antepassados. Entrevejo desde já as desgraças e desavenças que tomarão conta do reino após minha morte, caso eu parta desta vida sem deixar descendência. Vós, que tivestes sob vossa tutela o Rei dos reis e Senhor dos senhores, intercedei por mim junto Àquele que governa o universo.
Já no caminho de volta para o palácio, a carruagem dourada do soberano se deteve num cruzamento. Os olhos do monarca recaíram sobre um menino pobremente vestido que atravessava a rua. Impressionado pela semelhança que havia entre ele e o exherdeiro, mandou chamá-lo.
O pequeno aproximou-se timidamente e perguntou:
— Majestade, em que posso servi-lo?
— Senta-te ao meu lado, quero conversar contigo.
A princípio envergonhado por suas pobres e sujas roupas, o menino foi se esquecendo de sua miserável condição. Tão bondoso era o rei, e tão à vontade o deixara que sua atenção estava completamente voltada para o grande soberano.
— Como te chamas, e quem são teus pais?
— Chamo-me José, porque nasci no dia da festa desse santo. Quanto aos meus pais... eles morreram faz muito tempo. Eu moro com uma tia que não gosta muito de mim. Durante o dia eu peço esmolas, para aliviar um pouco as privações.
Diante desse menino frágil e necessitado, o rei discerniu um sinal do Céu.
— José, queres vir comigo para o palácio real, onde ocuparás o lugar do príncipe? Tu serás a partir de agora o meu filho, e quando Deus me chamar à Sua presença, tu serás o rei desta nação.
O pequeno menino abriu a boca, mas não conseguiu dizer nada. Aquele convite era completamente desproporcionado com sua humilde condição! Com muito esforço respondeu:
— Estou pronto para fazer a vossa vontade, meu senhor. Chegando ao palácio, o rei disse para toda a corte:
— Desejo que este menino seja meu herdeiro. Quando eu morrer, ele será o novo monarca. Levem-no para o quarto de dormir de meu falecido filho, vistam-no com suas roupas, ofereçam-lhe os alimentos que desejar, sirvam-no como fariam ao príncipe.
José foi sendo educado, tornouse moço e convivia de modo perfeito com o rei. Tudo corria com normalidade, porém no espírito do monarca nasceu uma interrogação: “Esse menino me quererá verdadeiramente bem? Ser-me-á agradecido pelo que recebe? Tornar-se-á digno de um dia dirigir meu reino? Ou será ele um ingrato que me agrada por interesses momentâneos? Para obter respostas seguras a essas indagações, vou submetê-lo a uma dura prova, pois se não o fizer, minha generosidade pode significar grande estultice”.
No dia seguinte o rei pôs em prática a dura prova para o príncipe. Passou a fingir que não lhe demonstrava a mesma amizade, que não o compreendia bem. Olhava-o com indiferença, e até com certa distância. Concedia-lhe audiências curtas, prestava-lhe pouca atenção, evitava-o em favor de coisas menos importantes. Chegou a ponto de conversar com terceiros, na presença dele, sobre reis viúvos e sem filhos que casaram novamente, tiveram prole e asseguraram sua descendência.
— Quem sabe se eu sigo o exemplo deles, contraio outras núpcias e tenho um herdeiro do meu próprio sangue?
Ao cabo de vários meses neste regime, o rei mandou um nobre da corte experimentar José.
— Não sei o que se passa, príncipe José, mas sinto nosso soberano muito mudado. Percebo que ele já não te devota o mesmo afeto de antes. Creio que para ele, já não és mais seu filho.
— Sim, nobre marquês, hei de concordar que o rei está muito sério e formal. Entretanto, não faz parte de seus direitos tratar-me conforme queira? Eu recebi tanto dele! Ainda que ele me tire tudo, eu o servirei a vida inteira!
Sem demora o marquês foi levar a resposta ao rei. Ficou assim comprovada a lealdade do coração do príncipe, o que muito consolou o monarca. Contudo, ele ainda precisava de uma derradeira demonstração de fidelidade do príncipe.
Certa madrugada, mandou acordá-lo e trazê-lo à sua presença.
— Preciso incumbi-lo de uma missão perigosa e confidencial. Em país distante há um preso que espera uma mensagem minha. Nesta noite mesmo, terás de sair disfarçado do palácio, viajar para lá, dizer que és meu filho, deixar-te prender e seres conduzido ao mesmo cárcere, para assim poder transmitir o meu recado à pessoa em questão.
O jovem, embora surpreso, não hesitou em responder:
— Meu senhor e pai, farei isso com todo o empenho. A que horas devo partir? Como se chama o preso? Qual é a mensagem que Vossa Majestade quer que lhe seja transmitida?
O rei deu ao príncipe as instruções necessárias e acrescentou:
— Você tem uma hora para estar pronto. Diga-me “até logo” e vai-te embora.
O rapaz se inclinou e se retirou.
Na hora exata, apresentou-se disfarçado diante dos guardas à porta do palácio. Mas, para sua surpresa, eles o impediram de sair, dizendo:
— O rei ordena que voltes para teu quarto! Ele retornou e o monarca o acolheu com transbordamentos de agrado. Estava assegurada a sucessão ao trono naquele reino mítico e maravilhoso...
* * *
Foi um sábio quem compôs essa história, à qual podemos dar a seguinte interpretação: tendo Deus criado os anjos para reinarem no Céu, olhou com tristeza os tronos que os seguidores de Lúcifer deixaram vazios. Chamou, então, os pobres homens para ocuparem aqueles lugares esplendorosos, muito acima dos seus merecimentos; e a fim de comprovar o grau de amor e gratidão de cada um, decidiu submetê-los a provações.
Se nelas formos fiéis, pelos rogos misericordiosos de Maria Santíssima, Nosso Senhor nos introduzirá no Paraíso, dizendo: “Servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, eu te confiarei muito. Vem regozijar-te com teu senhor” (Mt 25, 21).

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A serpente de bronze

Suscitado por Deus para libertar o Povo Eleito da escravidão no Egito, Moisés foi sem dúvida dos maiores homens que a História conheceu.
Para realizar essa missão humanamente impossível, realizou prodígios como ninguém. Para vergar o Faraó, desencadeou as dez pragas. Na condução do povo à terra prometida, abriu as águas do Mar Vermelho, fazendo os hebreus atravessarem a pé enxuto; fez brotar água de rochedos; cair maná do céu, culminando tudo com as Tábuas da Lei, em que o próprio Deus lhe transmitiu os Dez Mandamentos.
Entretanto, o povo israelita — testemunha e beneficiário de todos esses prodígios — não correspondia com gratidão à bondade divina. Na peregrinação de quarenta anos pelo deserto, com muita frequência duvidava de sua infinita bondade ou de sua onipotência, e punha-se a murmurar e reclamar contra os céus e Moisés.
Dúvidas, desconfianças e murmurações
Assim, apenas três dias após a milagrosa passagem do Mar Vermelho, começaram as murmurações — “Que havemos de beber?” (Ex 15, 24) — pois eram amargas as águas de Mara, onde chegaram. Moisés, então, por indicação do Senhor, jogou na água um madeiro que a transformou em água doce.
Decorridos menos de dois meses, reiniciaram as dúvidas e reclamações: “Oxalá tivéssemos sido mortos pela mão do Senhor no Egito, quando nos assentávamos diante das panelas de carne e tínhamos pão em abundância! Vós nos conduzistes a este deserto, para matardes de fome toda esta multidão” (Ex 16, 3). Em resposta, Deus enviou-lhes uma nuvem de codornizes e, a partir desse dia, fez cair do céu todas as manhãs o maná, saboroso e nutritivo, do qual, durante 40 anos, se alimentaram 600 mil homens aptos para a guerra, além das mulheres e crianças.
Na etapa seguinte da caminhada, nova recaída: “Por que nos fizeste sair do Egito? Para nos fazer morrer de sede com nossos filhinhos e nossos rebanhos?” Então dirigiu Moisés esta prece ao Senhor: “Que farei a este povo? Mais um pouco e irão apedrejar-me” (Ex 17, 3-4).
Manifestações de desconfiança, de murmuração e de espírito de revolta eclodiam, por assim dizer, em cada etapa do percurso. Somente contra Moisés? Não, contra o próprio Deus: “Ele ouviu as murmurações que proferistes contra Ele. Nós, porém, quem somos? Não é contra nós que murmurastes, mas contra o Senhor” (Ex 16, 8).
Deus, paciente e misericordioso, atendia sempre às súplicas de seu Profeta e perdoava o povo “de dura cerviz”. Às vezes, para bem desse mesmo povo, mandava-lhe uma salutar punição.
“Enviou serpentes ardentes que picaram e mataram muitos”
Um desses castigos foi o das mortíferas serpentes.
Logo após ser favorecido pelo Senhor dos Exércitos com uma vitória contra os cananeus, o povo hebreu partiu em direção ao Mar Vermelho. No caminho, perdeu a coragem e recomeçou a murmurar mais uma vez contra Deus e Moisés: “Por que nos tirastes do Egito, para morrermos no deserto onde não há pão nem água? Estamos enfastiados deste miserável alimento” (Nm 21, 5).
O Senhor, então, enviou contra eles serpentes ardentes que picaram e mataram muitos. Ante a evidência do desagrado divino, reconheceram seu pecado e recorreram à intercessão de Moisés: “Pecamos, murmurando contra o Senhor e contra ti. Roga ao Senhor que afaste de nós essas serpentes” (Nm 21, 7).
O Profeta intercedeu por eles e foi prontamente atendido, como sempre. Deus, porém, em vez de eliminar as serpentes, querendo dar uma grande lição moral ao povo, disse a Moisés: “Faze para ti uma serpente ardente e mete-a sobre um poste. Todo aquele que for mordido, olhando para ela, será salvo” (Nm 21, 8). Moisés mandou, pois, fundir uma serpente de bronze e fixá-la num poste. E, diz o Livro dos Números, “se alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, conservava a vida” (21, 9).
Prefigura de Jesus e de Maria
Portanto, para quem recebia a picadura mortal da cobra, não adiantava recorrer diretamente a Deus: “Senhor, salva-me!” Também não resolvia seu caso pedindo ajuda a Moisés. Não... Se não queria morrer, era indispensável olhar para a serpente de bronze erguida no poste.
Por quê? Deus poderia tudo fazer diretamente, sem intermediário algum. Mas, em sua infinita Sabedoria, quer Ele servir-se de intercessores e de símbolos, como Moisés e a serpente de bronze. Esta simboliza o Divino Redentor, conforme afirma o Evangelho de São João: “Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim deve ser levantado o Filho do Homem, para que todo homem que n’Ele crer tenha a vida eterna” (Jo 3, 14).
E é um formoso símbolo também da Virgem Maria, Co-redentora do gênero humano e Medianeira de todas as graças, para quem devemos olhar em todos os momentos da vida. Isto nos ensina, com palavras de fogo, o grande São Bernardo, exortando-nos a invocar Maria, a Estrela do Mar:
“Se o vento das tentações se levanta, se o escolho das tribulações se interpõe em teu caminho, olha a estrela, invoca Maria.
“Se és balouçado pelas vagas do orgulho, da ambição, da maledicência, da inveja, olha a estrela, invoca Maria.
“Se a cólera, a avareza, os desejos impuros sacodem a frágil embarcação de tua alma, levanta os olhos para Maria.
“Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria.
“Seguindo-A, não te transviarás; rezando a Ela, não desesperarás; pensando n’Ela, evitarás todo erro.”


quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

As três perguntas do Imperador

Sentado no seu trono, Carlos Magno preside à reunião do Conselho. No final, apresenta três perguntas. Quem lhes der resposta acertada receberá como prêmio uma imensa fortuna.
“ Senhores duques e barões — diz o grande Imperador de barbas brancas — eis que meu fiel amigo e vassalo Teudegúndio entregou piedosamente sua alma a Deus, deixando na Terra apenas sua lembrança e as saudades naqueles que o conheceram. Não tendo filhos, e havendo-o precedido sua esposa na mansão dos justos, seus bens e suas terras estão doravante nas minhas mãos; e eu vos reuni hoje aqui para determinar quem de vós merece receber esta herança. Vou fazer-vos três perguntas. Quem acertar perfeitamente as três, ficará com a herança.
“Ouvi, pois, a primeira pergunta: onde está o centro do mundo?”
Os duques e barões entreolharam-se, estupefatos. Nenhum deles saberia dizê-lo com precisão. Mas Carlos continuou:
“Escutai agora a segunda: quanto achais vós que eu valho?”
O silêncio, na sala do Conselho, se fazia cada vez mais angustiante. Quem poderia responder a tão difíceis perguntas?
“A terceira pergunta é: o que estou pensando?”
Os presentes se agitavam nas cadeiras... “Impossível!”, exclamaram vários. “Ninguém conseguirá!”, afirmaram outros. “São perguntas que não têm resposta!”
“Senhores, concedo-vos uma semana para refletir” — cortou o grande Carlos, sem pestanejar.
Encerrou-se a reunião, todos se retiraram.
 * * *
Agreldácio, o mais jovem dentre eles, acabava de ser nomeado barão após a morte de seu pai. Pobre, sem terras nem bens, morava sozinho e sobrevivia apenas dos frutos da horta cuidada por um jardineiro, jovem como ele.
De volta a seu pequeno castelo, parou diante de uma linda imagem de Nossa Senhora que reinava no jardim. Dirigiu-lhe uma prece filial, dizendo que, caso assim o quisesse, Ela poderia colocar ao alcance dele a herança desejada.
Terminava de fazer o sinal-da-cruz, quando se aproximou o jardineiro.
— Senhor barão, andais preocupado... em algo posso ser-vos útil?
Nosso barão contou-lhe o que se passara no Conselho. O jardineiro não pareceu embaraçado com as perguntas.
— Não vos preocupeis. Temos uma semana para pensar... Com vossa permissão, hei de fazê-lo. Creio que poderemos encontrar uma boa solução.
Estas palavras, ditas com segurança, reanimaram Agreldácio.
Passada uma semana, no dia marcado pelo Imperador, quando Agreldácio preparava-se para sair, viu chegar seu jardineiro, sempre tranquilo, mas com um brilho especial nos olhos. Curiosamente, tinha ele nas mãos uma esfera de pedra e um manuscrito de um trecho do Evangelho. Após cumprimentar o patrão, disse-lhe:
— Senhor barão, peço que façais tudo o que vos disser, pois tenho boas esperanças no sucesso de vossa empresa.
Em poucos minutos, o inteligente jardineiro expôs seu plano. Pouco depois saíram ambos a cavalo, rumo ao palácio do Imperador.
* * *
Na sala do Conselho reinava grande expectativa.
Após tratar de vários assuntos referentes ao reino, indagou Carlos a respeito das perguntas que tinha feito na semana anterior. Seguiu-se um silêncio, misto de respeito e vergonha. De repente, do mais afastado dos assentos levantou-se o mais jovem dos presentes.
Dissimulando sua surpresa com um amável sorriso, Carlos procedeu ao interrogatório:
— Senhor barão, dizei-me a resposta à primeira: onde está o centro do mundo?
— Majestade, se é verdade que o mundo é redondo, qualquer ponto pode ser seu centro; logo, quanto mais o lugar onde se encontra Vossa Majestade... — respondeu o moço, com uma calma inusual em sua idade.
Um burburinho de aprovação percorreu o auditório. Os sábios do Império se entreolhavam com admiração. Contente, prosseguiu o Imperador:
— Senhor barão, respondei-me, pois, à segunda pergunta: quanto achais que eu valho?
— Majestade, se nosso Salvador, Jesus Cristo, quis ser vendido por trinta moedas, certamente não valereis vós mais de vinte e nove... — retrucou o jovem com igual serenidade.
A estupefação encheu o auditório. Ninguém tinha pensado nisto! A resposta era perfeitamente válida! Todos se perguntavam quem era esse jovem. Mas ainda faltava uma pergunta por responder... a mais difícil!
— Senhor barão, respondestes bem às duas primeiras perguntas, e em verdade admiro-me de vossa justeza. Porém, falta-vos uma, e me admiraria ainda mais que a acertásseis. Dizei-me, pois, agora: o que estou pensando?
Na sala do Conselho, a tensão atingiu seu auge... Seria este jovem capaz de penetrar no pensamento do Imperador?
Tirando com graça o chapéu e o manto, deixando assim aparecer o traje de seu ofício, o jovem respondeu com desenvoltura:
— Majestade, vós pensais que sou o Barão Agreldácio... Entretanto, não sou senão seu jardineiro. E humilde servidor vosso — acrescentou, fazendo uma profunda reverência.
Um estrondoso aplauso quebrou o silêncio que até então os assistentes tinham logrado manter. A seguir, o jardineiro terminou pedindo ao Imperador que concedesse a seu amo a herança da qual se tinha tornado merecedor por suas respostas. De bom grado, o generoso Imperador acedeu.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Capela Sagrada Família - Consagração a Nossa Senhora

“Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração” – dizia a Santíssima Virgem na aparição de 13 de julho de 1917, em Fátima, Portugal. É com este intuito que os Arautos do Evangelho promovem a Solene consagração a Jesus pelas mãos de Maria.
Um grupo de fiéis da Capela da Sagrada Família da Paróquia Nossa Senhora das Graças fez sua solene consagração a Nossa Senhora como escravos de amor, segundo o método de um dos maiores santos mariais de todos os tempos, São Luís Grignion de Montfort.
Por essa escravidão consagra-se nossa vida nas mãos de Maria Santíssima, e Lhe entregamos todos os nossos méritos para que disponha deles como melhor quiser. Ou seja, damos diminutos méritos e, em retribuição, Ela nos concede uma torrente de graças, tomando-nos sob sua proteção de modo especial.

































Após rezarem a Consagração, como ato simbólico de sua entrega à Santíssima Virgem, cada um se ajoelhou diante da imagem de Nossa Senhora e recitou a oração “Sou todo vosso e tudo o que tenho Vos pertence”.